O racismo implícito no caso do “segurança gato” do metrô

Atualizado em 19 de novembro de 2014 às 14:41
Gato
Gato

 

Estava olhando a capa de um portal de notícias quando vi o link sobre um tal de “segurança gato” descoberto no metrô de São Paulo. Na hora apostei comigo mesmo: o cara é branco. Acessei o link e batata, como diria Nelson Rodrigues. A versão assalariada do “mendigo gato”, que apareceu há alguns meses, segue os padrões estéticos difundidos pela mídia e aceitos candidamente pela sociedade.

Está certo que o “segurança gato” e seu equivalente sem-teto não foram invenções da mídia. Eles foram descobertos pelas redes sociais e só viraram notícia depois de muito estardalhaço e compartilhamentos na web.

Isso mostra como os padrões de beleza estão interiorizados na sociedade. Claro, a obsessão por olhos e cabelos claros não foi inventada por Hollywood ou pela Rede Globo. Vem de séculos, é coisa antiga. Mas a mídia tem uma boa parcela de responsabilidade. Em vez de funcionar como elemento transformador da sociedade, é um dos mais eficientes elementos para manutenção de preconceitos raciais.

Os negros ou pardos representam mais de 50 % da população brasileira, mesmo assim são mal representados nos meios de comunicação de massa. Na dramaturgia, são normalmente retratados em papéis secundários e estigmatizados, como de serviçais, favelados ou delinquentes.

Nesses mais de 60 anos desde a exibição da primeira telenovela no Brasil, quantos galãs surgiram, foram capas de revistas de amenidades e arrebentaram os corações femininos? Desses, quantos eram negros? Fica o desafio de enumerar cinco.

A situação das mulheres é parecida, com a diferença que uma vez ao ano, no Carnaval, elas ganham evidência. É como se a mulher negra só pudesse ser linda vestida de biquíni e purpurina.

Anos atrás presenciei uma situação que me marcou muito. Uns garotos, na saída da escola, implicavam com uma menina magrela chamando-a de Olívia Palito, ou algo parecido.  Ela era branca e loirinha.

Uma senhora que passava pela rua mostrou compaixão pela vítima do bullying e disparou a joia: “Olha, meninos, vocês vão acabar namorando uma neguinha, hein”.

Testemunhei isso há mais de 20 anos. De lá pra cá, pouca coisa mudou. Para a quase totalidade da mídia e boa parte da população, black ainda está longe de ser beautiful.