O Rio do João (ou o dia em que a cidade se fez maravilhosa)

Atualizado em 8 de setembro de 2012 às 23:14

Acordo com o sol macio de uma tarde de verão. O café da manhã do hotel Bossa Nova, na avenida Atlântica, barato para o que oferece, é de comer de joelhos. Copacabana tem pouca gente, nenhum flanelinha, as prostitutas desistiram de prostituir-se depois que a cidade saiu da rota do turismo sexual. Disse-me o concièrge que o último assalto registrado no Rio de Janeiro foi em 1988, quando roubaram César Maia e o casal Garotinho. Ando tranquilo pela orla, levando o celular, a carteira fazendo volume no bolso da bermuda, o tênis importado berrando sua marca. Sem olhar para os lados para ver se alguém está de olho. Resolvo andar até Ipanema. Como é bom nadar nessa água límpida. O Caribe é um lixo perto disso. Tomo banho em um dos chuveiros do Posto 9.

Chico Buarque me convida para bater uma bola. Deixo para amanhã. Juliana Paes me oferece uma água de coco geladíssima. Todos os quiosques estão tocando o disco Amoroso, de João Gilberto, no volume certo. Eis que o próprio João aparece, violão debaixo do braço, e me convida para um chope. Vamos ao Bracarense. Lígia, a musa da canção de Tom Jobim, que anda pela praia até o Leblon, está ali. O Bracarense está lotado – mas o garçom, prontamente, nos coloca à mesa perfeita. João pede um bolinho de camarão com catupiry, que chega quentinho.

 

“Vamos a Santa Teresa?”, pergunta o homem (João tem desses repentes). Tomamos um táxi, cujo motorista não desvia do caminho, não reclama, não fala sem parar, nunca levou nenhuma atriz da Globo – e em um carro que tem ar-condicionado funcionando. Ninguém sabe o que é bala perdida em Santa Teresa. O bondinho passa a cada cinco minutos, pontualmente, e sempre tem lugar. As favelas estão em festa porque os traficantes foram presos e, agora, os aviõezinhos são só os de papel, feitos por meninos felizes. Aliás, os meninos de rua sumiram. Assim como a catedral e o Obelisco de Ipanema.

João acende um baseado na Lagoa Rodrigo de Freitas, onde as crianças nadam contentes. Ele sugere uma volta de pedalinho, mas eu prefiro dar um pulo até a Rocinha, que foi reurbanizada e ganhou um restaurante panorâmico com motivos mediterrâneos. João pega o violão e expulsa os artistas que fazem proselitismo com a extinta – extinta! – miséria do Rio de Janeiro. Da janela, vê-se o Corcovado, o Redentor, que lindo. “Agora tem um trem-bala até a Barra. Vamos nessa?”, indaga. João tem dessas. Claro que vamos. E não é que demoliram aquela Estátua da Liberdade?

CORTA!

Ipanema, 10 da manhã. Alguém, por favor, poderia tirar essa gigoga fedorenta que se enroscou no meu pé?