O Temer que mentiu na ONU sobre refugiados haitianos é o que quis restringir a vinda de sírios. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 20 de setembro de 2016 às 21:22
Convenção dos homens sem pescoço na ONU
Convenção dos homens sem pescoço na ONU

 

A nova fraude de Michel Temer, agora em território internacional, não fica apenas restrita à pedalada no número de refugiados, mas no que seu governo realmente pensa sobre eles.

Em seu primeiro discurso como presidente na ONU, Temer inventou que o Brasil já recebeu 95 mil pessoas de 79 países, sendo que 85 mil haitianos.

Segundo o Conare, órgão que cuida do assunto, são, na verdade, 8 800 — as cinco maiores comunidades originárias, em ordem decrescente, de Síria, Angola, Colômbia, República Democrática do Congo e Palestina.

O Conare é submetido ao Ministério da Justiça, de Alexandre de Moraes, o caçador de terroristas. Moraes foi escalado para tentar consertar a trapalhada. “Isso é algo correto. Os haitianos estão recebendo tratamento jurídico e social exatamente idêntico ao dos outros refugiados”, disse ao Globo.

“Não é porque são da América Latina que eles não podem ter o mesmo tratamento. O presidente colocou muito bem esta questão, e citou exatamente o número de haitianos”.

O Brasil considera apenas vítimas de “perseguição de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas”. Não entram os que fogem de desastres naturais — no caso haitiano, terremoto. É a mesma posição da Comissão Internacional da ONU.

Moraes ainda tentou se sair com uma história sem sentido sobre “metas” e “propostas qualitativas” que não convenceram. Ninguém explicou também de onde surgiu essa quantia de 95 mil.

Mais uma vez, a própria gestão temerista se encarrega de dar um tiro idiota no pé, obrigando-se a elucidar por que dá uma informação que a fonte oficial desmente.

É um povo sem competência, sem comunicação decente e sem Google. Uma das missões da viagem é, de acordo com a chapa branca EBC, “mostrar aos investidores e empresários estrangeiros que o Brasil está aberto e interessado em fazer negócios de forma segura”.

Noves fora o golpe e sua ampla repercussão no exterior, gerando a noção correta de instabilidade, você compraria um carro usado desse tipo de cascateiro?

Em seu discurso, Temer ressaltou que o país “se ergueu com a força de milhões de pessoas de todos os continentes. Os imigrantes deram – e continuam a dar – contribuição significativa para o nosso desenvolvimento.” Bonito.

Menos. Bem menos. Em junho, o governo suspendeu negociações com a União Europeia para receber sírios. O antecessor de Moras, Eugênio Aragão, buscava recursos para abrigar 100 mil homens, mulheres e crianças que fugiam da guerra.

De acordo com a BBC Brasil, a suspensão foi ordenada por Alexandre de Moraes e comunicada a assessores e diplomatas. A decisão seguia uma nova e mais restritiva postura quanto ao acolhimento de estrangeiros e à segurança nas fronteiras.

De acordo com a reportagem, essas diretrizes também foram expressas “em e-mail que circulou entre funcionários que lidam com o tema e ao qual a BBC Brasil teve acesso”.

Eis a verdadeira face de Temer e Moraes com relação a refugiados: não venham.

Não é que Michel, filho de libaneses, seja intrinsecamente mau. É que ele nunca teve que pensar no assunto até ir parar naquele plenário, sendo assessorado pelos cabeças de bagre que nomeou. Se seu chanceler acha que a Argentina está nos BRICs, por que o chefe deveria saber do que fala?

Sua ocupação sempre foi operar no PMDB. Nas horas vagas, escrevia poemas eróticos. Mais recentemente, passou para o ramo da conspiração. É demais pedir a Michel que faça algo longe das sombras e que diga algo sobre essa gente para a qual ele está pouco se lixando.

É demais pedir que Carlos Magno não nos faça passar vergonha.