O triplo carpado de Merval para elogiar a resposta desastrosa de Temer à delação de Machado. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 2 de dezembro de 2016 às 17:18


Há maneiras mais ou menos ridículas de apoiar o governo do golpe depois de uma temporada intensa de descalabros em tão pouco tempo.

Depois da terceira demissão de ministros, Jorge Bastos Moreno, colunista do Globo para quem o ex-vice decorativo vazou sua famosa carta, soltou rojões com a reação de MT.

No Twitter, escreveu que “se convenceu ou não, é outro problema. Mas a Nação sempre esperou respostas de seus governantes como Temer fez hoje. Foi contundente!”

Como assim, “se convenceu ou não”?

A declaração de Michel Temer é, desde já, antológica pelas razões erradas. Referindo-se à delação de Sérgio Machado, segundo a qual ele lhe pediu propina para a campanha de Gabriel Chalita, o interino foi patético.

“Alguém que teria cometido aquele delito irresponsável que o cidadão Machado apontou não teria condições de presidir o país.” Ele “anda nas ruas do meu estado, nas ruas do Brasil”, onde recebe “os cumprimentos, as homenagens por todos os locais por onde passa”.

Temer não sai nem de casa em São Paulo. E cidadãos enrolados na Justiça estão ocupando o Congresso, o Planalto e outras instâncias. Não é novidade, ele é suspeito há décadas e é mais um.

O recorde de sabujice e ginástica retórica, no entanto, foi quebrado por Merval Pereira. Ele, que já não é muito claro, se desdobrou num salto triplo mortal carpado mental para explicar como viu grandeza no lixo.

De acordo com Merval, a frase de Temer é “tão perigosa e desastrosa politicamente – e não teria sido dita se ele realmente não quisesse passar a informação de que não fez o que está sendo acusado – que ele parece estar falando a verdade”.

Em miúdos: é tão absurda e sem sentido que só pode ser verdadeira. Se o presidente dele disser, amanhã, que estava com Jesus Cristo e Pelé no dia referido por Machado — é bem possível, por que não?

A chapa fica mais branca quando se compara à sua leitura do que Lula disse numa coletiva de blogueiros: “Neste país não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Pode juntar promotores, juízes e quem mais for, que eles não serão mais honestos”.

É do mesmo quilate.

Mas, nesse caso, Merval lembrou do clichê: “elogio em boca própria é vitupério”. Era uma “reação conjunta de lapsos e atos falhos de petistas graduados” que queriam “se livrar de acusações que a cada dia se mostram mais comprováveis, através das delações premiadas que fornecem informações confiáveis aos investigadores”.

Lula tinha como objetivo “criar constrangimento às investigações que se aproximam dele, tanto que o ex-presidente continuou em tom de desafio”.

A desonestidade intelectual de Merval em defesa de Temer causou um certo constrangimento em seus colegas de GloboNews, que não sabiam muito bem como sair da enrascada. O assunto, evidentemente, morreu ali. Next!

Mas de onde veio isso tem mais. O talento da gestão golpista para o desastre é infinito (hoje, o ex-deputado Gustavo Perrella, dono do Helicoca e filho de Zezé, foi nomeada para o Ministério dos Esportes).

Jornalistas como Merval Pereira serão mais necessários do que nunca para explicar a transfiguração de Michel. No fim do arco íris ele vira estadista.