Obras num rio seco, condenação por fraude… como a Sabesp ganha dinheiro com seu descalabro

Atualizado em 27 de agosto de 2015 às 9:40

Captura de Tela 2015-08-27 às 09.33.11

 

A Sabesp foi condenada pela Justiça do Trabalho a substituir 25% dos empregados contratados irregularmente por meio de empresas terceirizadas. O valor da multa por danos morais coletivos foi fixado em R$ 250 mil no processo.

O caos instalado na empresa vai ganhando novos contornos.

O DCM apurou em sua série de reportagens que a empresa demitiu 600 funcionários entre 2014 e 2015, além de ter perdido processos judiciais por cortes sem justa causa no final de 2012. Houve recontratações de funcionários, muitos ex-superintendentes, além de outra multa de R$ 50 mil pedida pela justiça.

Ainda assim, a Sabesp informou no dia 13 de agosto que teve lucro líquido de R$ 337,3 milhões no segundo trimestre, alta de 11,5% na comparação anual. A receita, no entanto, caiu 7,9% na comparação anual, para R$ 2,05 bilhões.

A má gestão é um bom negócio. A Sabesp investiu R$ 28,9 milhões na transposição do rio Guaió, na cidade de Mauá, para abastecer sua segunda maior reserva hídrica, o sistema Alto Tietê. A represa é utilizada, atualmente, para diminuir a dependência do Cantareira.

Cerca de 50 dias depois da inauguração, o manancial estava seco, segundo o Estado de S.Paulo. Ou seja, uma inutilidade.

As maiores reservas já estão secando novamente em São Paulo. O sistema Cantareira caiu para 15% com as cotas do volume morto, enquanto o Alto Tietê recentemente caiu mais de 20 vezes até chegar no patamar de 14,8%, com a nova escassez de chuvas.

A crise hídrica, portanto, parece distante de uma solução. Com milhões investidos e os níveis cedendo mais, o governo e a empresa estudam transferências de recursos hídricos de outras fontes, como o São Lourenço e a reserva Billings.

Os maus investimentos não afetam negativamente o desempenho na Bolsa. Não interessa resolver rapidamente a crise enquanto a situação financeira estiver estável. Os acionistas privados não se abalam e nem o governo Alckmin se mobiliza.

A seca dos reservatórios demanda aportes milionários para solucionar gargalos, mas as obras são feitas pelas mesmas companhias que já trabalhavam com a Sabesp. A crise é, portanto, uma oportunidade de fazer bons negócios para os dois lados sem uma concorrência real. Todos saem ganhando num nítido conflito de interesses — pelo que as investigações do Ministério Público apontam.

O MP começou a olhar as construções emergenciais sem licitação pública no início de 2015. “O montante que apuramos em nosso inquérito civil é de R$ 160 milhões nas obras emergenciais até o momento. Mas sabemos que a cifra já está maior”, disse o promotor Otávio Ferreira Garcia em audiência na Câmara Municipal.

O Ministério Público de Contas do Estado de São Paulo divulgou no mês de agosto um relatório com 11 contratos emergenciais no valor de R$ 200 milhões sem licitação. A informação foi fornecida pelo próprio Otávio Garcia, que já estava investigando a Sabesp, e também pelos promotores Alexandra Facciolli Martins e Ricardo Manuel Castro.

A Sabesp não está interessada em solucionar o problema da falta de água em São Paulo. A seca vai se intensificar e a população vai pagar a conta, mais uma vez. O maior problema da cidade, afinal, todo o mundo sabe qual é: as ciclovias comunistas.