Onde foi parar todo o sexo de “Cinquenta Tons de Cinza”?

Atualizado em 11 de fevereiro de 2015 às 14:56

fifty-shades-of-grey-lg

Publicado no Mashable.

 

Aqui vai uma crítica de “Cinquenta Tons de Cinza” que você provavelmente não estava esperando: não há sexo suficiente no filme.

Deveria ter muito mais. A roteirista Kelly Marcel (“Saving Mr. Banks”) originalmente preparou um flambé escaldante, mas os produtores e a Universal abaixaram a bola no momento em que as filmagens começaram.

É uma pena, porque Marcel realizou nada menos que um milagre aqui, transformando uma ficção ilegível, um lixo que de alguma forma pegou fogo, num script bem construído. Ao eliminar os elementos icônicos absurdos do livro (a “deusa interior”, os tampões, exclamações juvenis como “Oh, merda!”), o filme retrata uma luta pelo poder entre um milionário tarado e a uma estudante inocente por quem ele se apaixona inexplicavelmente.

Não há realmente nenhuma explicação por que Christian Grey (Jamie Dornan), que tem um um estábulo cheio de mulheres jovens para escolher, acha Anastasia Steele (Dakota Johnson) tão irresistível. Mas essa falha está impressa no DNA de “Cinquenta Tons”, que é na verdade apenas uma xerox de baixa definição da série “Crepúsculo”, com alguns nomes alterados para proteger os inocentes.

Então, nos resta acreditar na noção de combustão sexual espontânea — o coração, ou talvez um outro órgão, “quer o que quer”, certo? – e Christian Grey parte logo em perseguição a Anastasia Steele. Vamos nessa.

Dakota interpreta Anastasia com sussurros e constrangimentos — ela está muito esperta para ser a aluna inocente do livro, mas funciona — e quando o impulso vem ela não nega. O milionário de vinte e poucos anos, é claro, costuma conseguir o que quer. Dornan foi uma boa escolha até mesmo pelos olhos azuis, uma mistura inebriante de feral e calculista, e os diálogos de propaganda de cuecas não estragam o filme — o que, neste caso, é algo de muito louvor.

Muito tem se falado da química entre Dakota e Dornan química na vida real, ou a aparente falta dela. O site Jezebel garante que eles se odeiam. Se é verdade – e, na verdade, não há nenhuma boa razão para pensar assim – não aparece tela, em que Anastasia e Christian olham um para o outro com aquele apetite que parece que um vai voar na garganta do outro, o que significa que uma boa e velha trepada está a caminho.

E assim acontece. No final do primeiro ato, nós finalmente conseguimos o que esperávamos quando Anastasia e Christian fazem sexo pela primeira vez, e da forma mais convencional.

Não há nada realmente mais excitante do que dois atores de boa aparência fazendo sexo, mas é apenas um aquecimento para o que está por vir, certo? As coisas vão esquentar significativamente, nós sabemos.

Exceto… que não esquentam. Quando Christian finalmente mostra a Anastasia sua “sala de jogos”, o que vemos é mais ou menos a mesma cena de sexo, apenas com os olhos vendados, alguma luz rebaixada, mãos amarradas e o barulho suave de um chicote. Embora vejamos o corpo completamente nu de Dakota Johnson, não temos o de Dornan, algo que a equipe de relações públicas de “Cinquenta Tons” decidiu evitar.

O que vem a seguir é a idéia mais interessante em “Cinquenta Tons de Cinza”: que uma jovem mulher modesta, de origem humilde, pode encarar um bilionário bonito e até começar a dobrá-lo à sua vontade, por instigar sentimentos ele não sabia que ele tinha.

Quando ele finalmente apresenta o contrato de “submissão”, ela reluta em assiná-lo porque está mais experiente. A luta pelo poder começa.

Drinques, edifícios de vidro, carros e helicópteros, mesmo um planador – ela não está ligando para nada disso, ainda não. E ela tem um bom motivo para ter reservas.

Isso porque Christian é muito ciumento, dominador e a persegue; ele tem uma tendência a surgir sempre onde Anastasia está. É mais do que perturbador, e ainda assim o filme opta por encobrir esses elementos do livro, que pintam Christian como um dominante implacável, insistindo em controlar todos os movimentos de Anastasia, mesmo quando não estão brincando com chicotes e algemas.

Forçada a decidir-se sobre o contrato, Anastasia primeiro quer que ele faça o seu pior, provavelmente para ver onde ela está se metendo. Então, finalmente assistiremos um pouco de BDSM [acrônimo para para “Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo”]? Finalmente?

A resposta: não.

Em seguida, o filme – que é excessivamente longo, com mais de duas horas – termina abruptamente, com uma sequencia de flagrantes armados que grotescamente nos empurram para fora da porta, deixando você sem saber se perdeu alguma coisa.

Não era, supostamente, você sabe, um filme de sexo? Não era supostamente uma espécie de filme terrível, mas, pelo menos, você sabe, super excitante?

Em vez disso, é apenas uma espécie de love story para maiores, sem graça o bastante para a categoria “tão ruim que é bom”, sem elegância ou sexy o suficiente para superar o atroz material original.

Isso é “Cinquenta Tons de Cinza”: nem terrível, nem supersexy. Mais ou menos assistível e morno. Decepcionante de um jeito próprio.