Os argumentos ridículos do agressor de Luiza Brunet. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 6 de julho de 2016 às 14:34
Parisotto quer enganar a quem?
Parisotto quer enganar a quem?

Eis que o agressor de Luiza Brunet, Lírio Parisotto, tenta se defender da maneira mais cínica – e, por que não dizer, clichê – possível: “Eu sou um homem violentado!”

Endossado por familiares e amigos (homens, é claro, para honrarem o famigerado clube do bolinha), Lírio tem reclamado porque “não se fala em violência da mulher contra o homem”.

Afora que ele parece ignorar o fato óbvio de que leis específicas existem para proteger grupos vulneráveis – como é o caso da Lei Maria da Penha e do Estatuto do Idoso, por exemplo – e também afora o fato de esta ser uma afirmação patética e descabida, devemos tecer considerações porque, em nome da não-violência, é válido inclusive reafirmar o óbvio:

Não existe violência contra o homem. Nenhum homem jamais morreu apenas por ser homem – como homossexuais morrem por serem homossexuais, mulheres morrem por serem mulheres e negros morrem por serem negros.

A misandria é uma falácia, uma lenda, uma retaguarda estúpida do patriarcado – este mesmo patriarcado, aliás, que tanto acusa as mulheres de vitimistas mas não hesita em defender-se do indefensável:

“Mas nem todo homem…” “Mas ninguém fala da violência contra o homem” “Mas e os homens?”

Parisotto parece ignorar, mas todos estes argumentos são velhos conhecidos das mulheres e do feminismo – e nenhum deles tem qualquer respaldo.

O print de uma mensagem “espontânea” de um amigo de Parisotto, que afirma tê-lo visto ser agredido pela ex-esposa durante uma viagem de barco, é tão visivelmente arquitetado que lembra-me o risível episódio do “vazamento acidental” da carta de Temer a Dilma: uma mensagem privada notadamente escrita com o intuito de ir a público.

Segundo o agressor, além do amigo Paolo, que assina o “texto de apoio” compartilhado por ele, outras dez pessoas presenciaram a suposta agressão, em razão da qual o empresário teria sido hospitalizado.

Além destas onze, quantas pessoas Parisotto precisará comprar? Com dinheiro, influência, poder, favores? Nós sabemos quantas coisas um homem poderoso pode mover ao seu favor, nós sabemos que homens – aqueles ditos amigos do casal – dificilmente tomam as dores da mulher em uma situação de violência e nós sabemos quem sairá perdendo nessa história: a mulher que denuncia, como sempre foi.

Uma mulher aparece com hematomas e costelas quebradas e denuncia seu agressor narrando a história com riqueza de detalhes. Basta que o agressor a contrarie – mesmo que com argumentos vulgares como os utilizados por Parisotto – para que a palavra da vítima seja colocada em dúvida.

Espero intimamente estar errada, mas a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco.