Os hang outs de Lobão no YouTube e a glória da paranoia

Atualizado em 27 de outubro de 2014 às 13:24

 

Lobão tem organizado hang outs no Youtube. São encontros virtuais transmitidos ao vivo por streaming. O mais recente teve Olavo de Carvalho e Rodrigo Constatino. Houve e haverá outros.

O cantor é o mediador. É ele quem dá o ritmo da conversa, interrompe ou estimula os interlocutores, dá seus apartes. Lobão ficou emocionado no final do último colóquio porque, aparentemente, aquele foi o reencontro entre Constantino e Olavo depois de um rompimento.

O papo entre os três foi — surpresa, surpresa — em torno da necessidade de destruir o PT, evitar a ascensão de um regime socialista no país etc. O Foro de São Paulo não foi esquecido. Nem a “bebedeira” de Dilma em Lisboa. Um problema de conexão no início foi identificado como “censura” por Lobão no Twitter.

Lobão acha que haverá um golpe comunista neste ano e se mostrou chocado com quem não leva isso a sério. Votar no PT, garante Constantino, é desvio de caráter. O partido não tem eleitores, tem cúmplices. Se Satanás for a única opção para mudar o governo, o negócio é votar em Satanás, acredita Olavo de Carvalho.

As matérias positivas sobre o Brasil na imprensa americana são pagas, conta Olavo, que tem certeza de que os black blocs são financiados pelo governo. “Há um maquiavelismo tremendo”, afirma.

Fernando Henrique Cardoso cometeu um erro absurdo ao declarar no programa Manhattan Connection que não acreditava que Lula (o “Barba”) era um delator do Dops, como se lê no livro de Romeu Tuma Jr.  FHC tinha a obrigação de subscrever essa revelação. Eles não querem ser políticos — apesar das pessoas que pedem a Constantino que se candidate, de acordo com Constantino.

Uma hora e meia de teorias conspiratórias com momentos de humor involuntário. Os hang outs são feitos por Batmans do Leblon tentando nos salvar do perigo vermelho. Os profetas de um messianismo esquisitão, pregando entre si, vendo o Coringa em cada esquina.

Há 50 anos, o historiador Richard Hofstadter escreveu um ensaio na revista Harper’s chamado “The Paranoid Style In American Politics” (“O Estilo Paranóico na Política Americana”). É um clássico. Hofstadter se referia aos conservadores alinhados com o senador Barry Goldwater, que tomaram o Partido Republicano na época.

Sua visão se aplica perfeitamente ao nível desse debate:

“O paranóico vê a conspiração em termos apocalípticos – ele transita entre o nascimento e a morte de mundos inteiros, ordens políticas, sistemas completos de valores humanos. Ele está sempre atrás das barricadas da civilização… Como o que está em jogo é sempre um conflito entre o bem absoluto e o mal absoluto, é necessário não firmar um compromisso, mas dar cabo das coisas. Uma vez que o inimigo é encarado como totalmente mal e totalmente implacável, ele deve ser totalmente eliminado – se não do mundo, pelo menos do teatro de operações ao qual o paranóico direciona sua atenção”.

“Essa exigência de triunfo total”, diz o autor, “leva à formulação de metas irremediavelmente irrealistas, e já que estes objetivos não são remotamente alcançáveis, a falha constante aumenta a frustração. Mesmo o sucesso parcial o deixa com o mesmo sentimento de impotência do começo, e isso só fortalece a consciência da grande e terrível qualidade do inimigo a que ele se opõe”.

É o tal negócio: sei lá. Vai que, né? Depois não diga que não foi avisado.

lula