Os motivos da demissão da apresentadora da TVeja. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 7 de novembro de 2015 às 20:28
Quem queria ver Serra?
Quem queria ver Serra?

Estava na cara que Joice Hasselmann ia durar pouco na Veja.

Não por ela. Joice fez o que se esperava que fizesse. No comando dos vídeos da Veja conseguiu ser mais antipetista do que Rachel Sheherazade. Derrubou Dilma algumas vezes – na fantasia, mas a Veja gosta desse tipo de ficção.

Os plágios também não podem ter contado muito para uma revista cuja política editorial aceita barbaridades infinitamente maiores como atribuir contas no exterior sem checar, como no caso Romário.

Joice teve um bom desempenho de acordo com o que a Veja queria dela.

O que levou seu emprego estava completamente fora de seu controle.

Primeiro, foi o estapafúrdio modelo de televisão adotado pela Veja. Na Era Digital, os vídeos são curtos, agudos.

Os vídeos da Veja são o oposto disso. Longos, maçantes, monótonos. São uma mostra da dificuldade mortal que a Veja encontra para se adaptar à internet.

É como se a Veja, em sua arrogância obtusa, quisesse que a internet se adaptasse a ela.

Uma ida ao canal de vídeos da Veja no YouTube conta tudo. As audiências são famélicas. Ou alguém acha que o internauta está disposto a ouvir Serra e congêneres por uma hora?

Num dos momentos mais desgovernados da TVeja o blogueiro Ricardo Setti foi objeto de uma interminável homenagem logo depois de ter sido desligado.

Joice recebeu uma encomenda absurda, e entregou o que lhe pediram.

Não daria certo nem se Ophra estivesse no lugar de Joice.

O segundo fator é a agonia da Abril. As receitas caem brutalmente sem que haja nenhuma chance de retorno.

Menos publicidade, menos vendas em bancas, menos assinaturas.

E, importante, menos publicidade oficial. O governo Alckmin prestigia os amigos, como sempre, mas o Planalto deixou de anunciar na Veja depois de anos de gangsterismo editorial impune.

Nenhuma grande empresa jornalística brasileira sobrevive sem o dinheiro do povo, sobretudo os mensalões milionários derivados da publicidade federal.

E ainda mais uma empresa como a Abril, que vive de uma mídia obsoleta, as revistas impressas, sem saber fazer a mídia nova, que é a internet.

Foi dentro desse quadro que, pouco tempo atrás, Rodrigo Constantino perdeu o emprego. (Magoado, sem classe nenhuma, previu uma morte horrível para a Veja, não sem antes, numa ciclotimia de doente, rogar a seus leitores que não cancelassem a assinatura da revista em retaliação ao chute que lhe deram.)

A Abril vai ficar menor, menor e menor. Quem puder sair vai sair, como fez Lauro Jardim ao se transferir para o Globo.

Daqui a pouco os donos se perguntarão se faz sentido manter executivos e jornalistas caros – os que sobraram.

Joice não tinha mesmo futuro no Titanic.

A rigor, ela entrou no Titanic quando já fazia água, depois do triste encontro com o iceberg.

Não havia chance mesmo de uma viagem melhor do que a que teve.