O perdão dos radialistas australianos pela piada mortal

Atualizado em 11 de dezembro de 2012 às 1:35

A tragédia diz mais sobre os mistérios humanos do que sobre os limites do humor

 

Jacintha, entre os filhos

“Não passa um minuto sem que pensemos na família dela”. Mel Greig, a radialista que se fez passar pela rainha Elizabeth no trote que levou à morte da enfermeira Jacintha Saldanha, na semana passada, pediu desculpas numa entrevista à TV australiana. Ela e seu colega Michael Christian, que “interpretou” o príncipe Charles, se disseram desapontados e de coração partido.

Os dois telefonaram para o hospital Edward VII, onde Kate Middleton estava internada por causa de enjoos, e conversaram com uma enfermeira sobre o estado de saúde da duquesa de Cambridge. Jacintha estava na recepção e passou a ligação.

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“Quando nós pensamos em fazer a ligação, era para durar 30 segundos e alguém iria desligar. Era inocente assim”, disse Christian. “Pegadinhas são feitas todo dia em todas as estações do mundo inteiro. Ninguém poderia imaginar que isso aconteceria”.

Há ainda complicações legais: a emissora não avisou as enfermeiras, depois, que elas tinham sido gravadas e, portanto, não tinha autorização para colocar a transmissão no ar. O programa, ao menos, foi cancelado. O corpo de Jacintha será levado para a Índia por seu marido, Benedict Barboza. A família dela é da cidade de Mangalore (a região foi colônia portuguesa, daí o sobrenome). A autópsia será realizada amanhã. O caso por pouco não levou a uma crise diplomática entre a Grã-Bretanha e a Austrália, dada a reação diante da pegadinha mortal.

Jacintha, dizem pessoas próximas, se sentiu humilhada por ter caído na brincadeira. Ainda mais por ela envolver a família real. Década após década, a turma da rainha está na mídia diariamente, com as notícias mais estapafúrdias possíveis. Analistas explicavam o que pode acontecer se Kate tiver gêmeos. Estrelas pop aparecem e somem, mas a vida de Charles, William, Harry etc é acompanhada do nascimento à morte obsessivamente.

A tentação de apedrejar os DJs é compreensível. Mas não faz muito sentido. A indignação moral levou a pedidos de demissão e de fechamento da rádio. Alguém vai proibir os trotes? Baseado em quê? Quais serão os parâmetros? Qualquer um que ouça a gravação verá que não existe, ali, nada de extremamente grave. É uma dupla de idiotas fazendo a única coisa que sabe fazer. Foi a chamada bala perdida.

A tragédia, porém, diz mais a respeito dos limites de uma pessoa e dos mistérios que levam alguém a se matar. A imprevisibilidade do comportamento humano. A história de Jacintha Saldanha ainda precisa ser contada.