Os senadores que desdenham o termo ‘golpe’ deveriam ir a um Fora Temer na Paulista. Por Donato

Atualizado em 30 de agosto de 2016 às 8:35

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No final da tarde de ontem, enquanto a presidente Dilma Rousseff ainda falava no Senado para defender-se daqueles que não representam nada além de seus próprios interesses e era obrigada a ouvir Aloysio Nunes soltar o provocativo “Como golpe?”, ao menos 20 mil pessoas reuniram-se na Praça do Ciclista na avenida Paulista para protestar contra o golpe que irá retirar definitivamente Dilma Rousseff da Presidência da República.

Os manifestantes bloquearam a avenida durante a marcha e seguiram no sentido da FIESP, mas na altura do MASP foram impedidos de seguir adiante. Pouco mais de uma hora depois do início da manifestação a polícia recebeu ordem de liberar a via, algo que ela faz com prazer sádico.

Nunca é demais lembrar que os pró-impeachment acamparam e interromperam o trânsito da avenida Paulista por quase 40 horas sem serem incomodados quando Dilma nomeou Lula como ministro. E de lá não saíram mais. Estão ali até hoje e foi para novamente protegê-los que tudo começou.

O ‘movimento’ Resistência Paulista (a favor do impeachment) está acampado na calçada ao lado da FIESP há 163 dias e mais uma vez foi protegido por forte aparato policial.

A partir daí, contra a resistência dos pró-democracia, viu-se o roteiro de sempre: Tropa de Choque, Tropa do Braço, Rocam, bombas, gás de pimenta, balas de borracha. Tudo sem economia. PM ostentação. Mais uma vez muitos fotógrafos e cinegrafistas ficaram feridos.

Após a varredura na Paulista, estrelada pelos milionários caminhões de Alckmin que lançam jatos d’água, a polícia desceu a rua da Consolação atrás dos manifestantes e na Praça Roosevelt foram lançadas mais bombas. Sim, porque não basta liberar a avenida ou dispersar, é preciso perseguir os comunas!

“Por que as bombas são sempre pro nosso lado? É muita injustiça neste país! Temos que voltar às ruas em massa. Fora governo usurpador, elites hipócritas. Volta, democracia!!” disse Iva Oliveira.

Uma das justificativas de quem diz não ser um golpe o que está andamento é que não há armas, não há tanques, etc. Como não? Então o que vimos ontem, o que foi? Isso que ocorre sempre quando o ato é em defesa de um governo eleito pela maioria é mera coincidência?

Quando as manifestações eram contra Dilma Rousseff e pró-impeachment, era tudo ‘pacífico’, com permissão e anuência dos governos estaduais, com a polícia dócil e posando para selfie. Mas quando a manifestação é para defender o governo eleito nas urnas, os tanques aparecem.

Lá estão os caminhões israelenses de 5 milhões de reais, os tiros, as bombas. Não é golpe? Quem não vê os tanques é porque só esteve nos ‘protestos’ chamados pela turma que quer estancar a Lava Jato ou porque assiste a tudo pela TV.

Durante as perguntas, o senador Cássio Cunha Lima foi outro a querer dar uma espetada em Dilma e falou que o ‘processo’ veio da ruas. Dilma devolveu à altura e afirmou que ninguém ali era ingênuo e todos sabiam que de ‘espontâneo’ aquelas manifestações não tinham nada.

De fato, quando é espontâneo como ontem, os protestos são fortemente reprimidos. Aquelas passeatas em verde e amarelo foram uma encenação de encomenda.

É preciso ser ingênuo, ou mal informado, ou mal intencionado (ou um pouco de tudo junto) para não perceber que “Fora Dilma” é orquestrado e consentido enquanto que “Fora Temer” é espontâneo e reprimido. Mas se há uma certeza é a de que esse governo golpista não vai ter sossego. O dia de hoje já começou com diversos bloqueios em importantes avenidas.