A palestra de Kim Kataguiri no MP do Rio é o triunfo da nossa xucrocracia. Por Sacramento

Atualizado em 24 de julho de 2017 às 6:49
Especialista em pilantragem

 

Não é novidade que o país caminha em ritmo acelerado rumo à pior forma possível de conservadorismo político. Mesmo assim, causa assombro a notícia de que o líder do Movimento Brasil Livre (MBL), Kim Kataguiri, foi convidado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro para falar no evento “Segurança Pública como Direito Fundamental”, marcado para o dia 15 de setembro.

Para piorar, em resposta à repercussão negativa do convite junto à imprensa progressista, Kataguiri postou no Twitter que também foi chamado para palestrar no Ministério Público Federal em Goiás.

O que um molecote arregimentado sabe-se lá por quem para fazer proselitismo político da forma mais grosseira possível, com emprego de montagens toscas, ofensas a adversários, disseminação de notícias falsas e uso despudorado da mentira, entre outras bestialidades, tem a dizer a promotores e procuradores de justiça é uma incógnita.

Assim como os seus companheiros do MBL, Kataguiri tem um discurso baseado na mistura do senso comum com agendas alinhadas ao pensamento de direita, como críticas ao aborto, ao estatuto do desarmamento e defesa do liberalismo econômico. O aporte teórico é ínfimo, as referências literárias são escassas.

É a personificação da direita xucra, uma facção capaz de enviar a foto de um pênis de borracha como resposta aos questionamentos de um veículo de imprensa. Um tipo limitado até mesmo para uma plateia do nível daquele promotor de SP que comparou manifestantes a “bugios” e disse que uma desembargadora tinha “cara de empregada doméstica”.

Xucro, aliás, é até um elogio para o bando do MBL. Sinônimo de “bravo”, “indomado”, “selvagem”, pressupõe ser algo que possa ser domado, domesticado, polido. Situação impensável quando se observa a cavalgada fascista do MBL de Kataguiri.

Em resposta às críticas pela escolha de um dos palestrantes, o MP/RJ explicou por nota que “prestigia o debate propositivo cujo foco é exatamente a contraposição e a contradição de ideias” e que “seguirá, a passos firmes, na construção de pontes de consenso, a partir do saudável debate de ideias”.

A justificativa seria aceitável se o pessoa em questão fosse afeita ao diálogo e ao debate saudável, mas o MBL é o oposto da busca pelo consenso. Ainda assim, pelo teor da nota o MP/RJ deixa claro que Kataguiri está confirmado entre os palestrantes do evento.

Fica a esperança do convite ser um caso isolado, uma singularidade, algo que ninguém consegue explicar e do qual pouca gente irá se lembrar no futuro, igual a convocação do lateral-direito Zé Carlos pela seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo de 98.

Por outro lado, Kataguiri palestrando para o Ministério Público pode significar o triunfo da direita xucra, com o pensamento obtuso do MBL a conquistar instituições fundamentais para a manutenção da democracia e da justiça social.

Teríamos, então, uma xucrocracia. O neologismo é hediondo, mas só uma palavra tão feia para nomear uma sociedade fundamentada no pensamento de Kataguiri e sua cambada.