Panaca do Mês: o deputado que pediu o impeachment de Dilma ao príncipe do Japão. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 6 de novembro de 2015 às 10:53
Brasileiro corrupto é tudo igual
“Brasileiro é tudo igual”

 

No começo dos anos 80, eu me tornei um leitor da revista Mad. Meu pai a trazia para mim do trabalho. Foi uma substituição um tanto abrupta com relação aos gibis da Mônica e do Cebolinha.

Mad fazia um humor anárquico, com sátiras impagáveis de filmes como “Tubarão”, “Super Homem” e “Star Wars”. A seção de charges de Don Martin era incrível. Havia as “Cenas Que Gostaríamos de Ver”. A terceira capa que se dobrava e revelava um desenho absurdo.

Mas a minha preferida era a seção de cartas, que elegia o Panaca do Mês: um leitor sem noção, que recebia uma resposta igualmente idiota da redação (quem escrevia? quem editava”).

Bem, essa ideia do Panaca do Mês é boa demais para ser esquecida, especialmente no nosso cenário atual. E ninguém melhor do que o deputado paranaense Fernando Francischini para inaugurar essa homenagem a Alfred E. Neuman, o “mascote” da Mad.

Ladeado por Eduardo Cunha, Francischini ultrapassou a barreira do decoro e cruzou a linha da estupidez na visita do príncipe Akishino, do Japão, à Câmara. Obrigou um estafeta a escrever o seguinte numa cartolina: “We want the impeachment of the (sic) president Dilma Roussef because we hope Brazil becomes as honoured as Japan”.

Diante de Akishino, empunhou o cartaz, como um daqueles sujeitos que vendem ouro no centro da cidade. O homem deu um sorriso sem graça e saiu apressado, de fininho, assustado com os costumes daquele estranho povo.

“Não aguentei: tive que falar para o príncipe do Japão que a situação da corrupção no Brasil está imoral”, afirmou Francischini. No Facebook, lamentou: “Se toda essa corrupção fosse no Japão seria diferente. Ah, seria…”

Provavelmente, seria.

Francischini e seu partido são aliados de um sujeito investigado por supostamente receber propina de 5 milhões de dólares, com várias contas na Suíça, uma delas chamada jesus.com.

O próprio Francischini foi demitido do cargo de secretário de segurança pública do Paraná e responde por improbidade administrativa por causa da operação policial que deixou quase 200 feridos numa manifestação contra o governo estadual em abril.

O príncipe japonês e sua mulher estão no país para uma visita de onze dias, parte das comemorações de 120 anos do estabelecimento de relações diplomáticas. Vão levar um berimbau, arco e flecha do Xingu, camisetas da seleção e a lembrança indelével do encontro com um legítimo Panaca Brasiliensis.

 

Francischini
Francischini