Parem de rezar por Orlando. Por Leo Mendes

Atualizado em 15 de junho de 2016 às 18:26

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No momento, tentar se colocar no lugar de quem estava na boate, levou vários tiros e sobreviveu é um exercício espiritual mais indicado do que qualquer reza.

Coloque-se no lugar de alguém LGBT cuja família frequenta uma igreja fundamentalista que afirma que LGBTs vão para inferno.

Coloque-se no lugar daqueles que ouvirão, ainda na cama do hospital, que os tiros não são nada perto da ira de Deus — Deus este que, em sua infinita misericórdia, deu ao LGBT uma nova chance de ser heterossexual ou cisgênero, antes condená-lx ao fogo eterno

Coloque-se no lugar de alguém cuja família fala Bolsomito. De alguém que foi espancado durante a infância para ser “ensinado a ser macho”. De alguém que ouve que LGBTs gostam de se fazer de vítimas.

Talvez tais familiares estejam dizendo que rezam por Orlando, mesmo que o Deus em que acreditam esteja disposto a entregar LGBTs ao demônio. Melhor seria que não rezassem a um Deus assim.

Muitos querem ajudar, de coração, e promover a salvação das almas infiéis. Outros buscam apenas destilar frustrações e sentir-se melhores do que outros. E são muitos os que querem apenas dinheiro,

Ao vender a ideia da superioridade sexual, muitas igrejas incentivam-nos a odiar um semelhante, que passa a ser visto como uma ameaça a uma causa maior — seja a família, os bons costumes, a pátria ou a raça. Isso cria nas pessoas o desejo de combater um inimigo imaginário.

A diferença entre o fundamentalismo religioso do afegão e do brasileiro é que o primeiro encontrou condições mais favoráveis para desenvolver a ilusão e o ódio à diferença ao extremo, mas ambos matam todos os dias.