Pêgo na mentira: a verdadeira escola de samba que Huck quer comprar desde 2011 é o Brasil. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 17 de maio de 2017 às 12:50
Ronaldo, Aécio e Huck

Luciano Huck tem uma explicação furadíssima para a história de que tentou comprar o enredo de escolas de samba do Rio de Janeiro.

Assim que a notícia saiu na coluna Radar, da Veja, no começo do mês, ele ligou para o titular Maurício Lima e tentou um desmentido.

Contou que um compositor, cujo nome ele não lembra, chegou com essa ideia, fez uma reunião e contatou as escolas sem sua autorização.

“Usaram o meu nome”, falou Luciano, segundo Maurício.

Ficamos assim: Luciano Huck, que não tem a agenda tão livre quanto a do seu tio que é juiz aposentado, topa se reunir com um desconhecido que sugere um plano desses — e não pega um cartão com ele.

Sua vasta assessoria também teve amnésia.

Num programa de subcelebridades da RedeTV!, a presidente do Salgueiro, Regina Celi, confirmou que emissários de Huck foram atrás dela.

“Aconteceu. Procuraram para fazer o enredo, mas realmente, não que o Luciano não mereça esse enredo na escola, porque eu acho que ele tem a história dele, mas eu quero muito ir atrás de um título”, declarou Regina.

“É bom o dinheiro? É, mas quando você pisar na avenida você tem que ter ciência que você vai fazer um bom carnaval”.

Saudado como “novo” por FHC, desesperado com os “velhos” de seu partido que viraram pó de traque nas pesquisas, Huck cultiva um hábito milenar da política: a dissimulação, para não dizer a pura e simples mentira.

Com Bernardinho e Aécio

Huck é candidatíssimo.

Seu maior desafio, atualmente, é se livrar do grupo do amigão Aécio Neves, hoje um pau de enchente.

Luciano faz parte desse círculo sediado no Rio de Janeiro, que inclui ainda Ronaldo Fenômeno, o empresário Alexandre Accioly, citado em delação da Odebrecht como laranja de Aécio, e Bernardinho, sondado para se candidatar a governador do Rio pelo Partido Novo.

Ele foi sócio, aliás, de Bernardo e Accioly numa rede de sorvetes de iogurte.

A primeira vez em que Luciano Huck deu uma bandeira de suas ambições foi em abril de 2011, na extinta revista Alfa, que eu dirigia, em reportagem de Marcelo Zorzanelli (um dos criadores do site Sensacionalista).

Na ocasião, deu os nomes dos dois políticos que mais admirava: Lula e Aécio.

Reproduzo alguns trechos:

Seus amigos mais próximos já se perguntam por que não o colocar de vez num cargo público. Nos comentários do retrato com Obama, era comum encontrar fãs dizendo: “Queria que a legenda fosse: ‘O encontro entre os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos’”. 

(…)

“Sou daqueles que sabem que estamos lidando com o próximo Ronald Reagan”, diz o empresário carioca Alexandre Accioly, sócio e amigo íntimo. “Gosto de dizer que o Luciano é um político sem mandato.” Em casa, Luciano já tocou no assunto. “Ele brinca com isso”, diz Angélica. “Hoje, aos 39 anos, acho que estou cumprindo esse papel na televisão”, diz Luciano, depois de pensar um pouco. Mas seria presidente do Brasil?

“Agora, não. Daqui a dez anos, talvez eu tenha mudado a resposta.” Bons contatos na política não faltam. José Serra é amigo da família e o mineiro Aécio Neves se mantém ainda mais próximo. Aécio e ele assistiram juntos ao primeiro programa político da campanha presidencial de 2010. “Acabou o programa da Dilma e eu falei: ‘O Serra já era!’ O Aécio também disse: ‘Já foi’.”

(…)

Para ele, a solução para a questão social começa na iniciativa privada – mas termina nos braços do Estado. “Acho que o governo é o único capaz de multiplicar de fato o que dá certo no terceiro setor”, ele diz. Ao mesmo tempo, Luciano é a favor de que os grandes empresários brasileiros gastem com instituições benemerentes, em vida, o dinheiro que seria tributado de suas heranças. “Isso poderia mudar a cara dos projetos sociais no Brasil. Acho que a taxa poderia ser de pelo menos 5%.”

(…)

Quando pergunto qual é a personalidade histórica que mais admira, ele pede que eu olhe as fotografias penduradas em seu vasto salão de jogos. “Tem vários aí.” Muitos comunistas, eu digo. “Não!”, ele responde, pego de surpresa. “Tem o Kennedy ali… O Lula também não é mais uma referência comunista, né?” Cito as fotografias que mais me chamaram a atenção: Fidel Castro, uma reunião do Partido Comunista chileno (com direito a foice e martelo na parede) e um estádio na Coreia do Norte. “É verdade, é verdade…”, ele diz, maravilhado. “Tem a Bósnia, que também brigou contra um regime comunista…” Difícil saber como Luciano se aproximou de símbolos da utopia jamais realizada de uma sociedade igualitária. “Ele tem uma coisa de olhar em volta e achar que pode salvar o mundo”, diz Angélica.

(…)

Seu salário atual, especula-se, é de 1 milhão de reais. “Vou juntando as pontas dentro da Globo. Outro dia fui chamado pelo Erlanger (Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação) e dei meus pitacos. Se me perguntam, eu respondo.”

Publicada a matéria, Huck foi ao Twitter fazer o mesmo que fez no caso do Carnaval: tentou emplacar outra versão.

“Nunca disse que quero ser presidente. Pelo contrário. Quem disse foi um repórter da revista Alfa. Sou um profissional de TV”, escreveu.

Eis o “novo”, segundo Fernando Henrique Cardoso.