Perfil: o papagaio de pirata do impeachment. Por Renan Antunes de Oliveira

Atualizado em 20 de abril de 2016 às 14:04
Fabrício não votou, mas apareceu mais que os votantes
Fabrício não votou, mas apareceu mais que os votantes

Por Renan Antunes de Oliveira, de Balneário Camboriú

Entrevistei hoje de manhã o papagaio de pirata da hora, Fabrício de Oliveira. É dele o marcante rosto sem nome da sessão do impeachment, um suplente que não podia votar mas que mesmo assim é mais lembrado do que a maioria dos deputados votantes.

O nome completo do papagaio próximo do infame microfone do “sim” é Fabricio José Satiro de Oliveira. Ele é vice-presidente do PSB catarinense. Tem 40 anos e aparência de garoto de praia.

Fez carreira dos 24 aos 35 como promoteur da boate do pai. Migrou para a política no combo radialista/evangélico. É candidato pela direita à prefeitura de Balneário Camboriú, o epicentro da balada no Sul do Brasil – 120 mil habitantes fixos e um milhão na temporada.

Fabrício garantiu suas três horas de fama nacional exibindo cara de paisagem atrás dos deputados chamados por Eduardo Cunha ao microfone, com direito a replay em todos os telejornais do país.

A exposição muda de políticos em eventos importantes é um velho recurso dos aspirantes a cargos quando eles não têm muito o que falar. É um truque de marketing que funciona.

Hoje ele colhe os frutos – mesmo três dias depois, nossa entrevista foi interrompida por vários telefonemas de congratulações, como se ele tivesse votado. Uma mulher apareceu na porta só para lhe dar um pote de mel.

O homem é um político paroquiano. Hoje ele apresenta programas de defesa do consumidor em rádios locais, na afiliada da Joven Pan, na Menina e na 103FM, esta da Igreja Embaixada de Deus – ele frequenta seu templo, na 4ª Avenida.

Fabrício no estúdio da rádio da Igreja Embaixada de Deus, em Balneário Camboriú
Fabrício no estúdio da rádio da Igreja Embaixada de Deus, em Balneário Camboriú

Fabrício é um sujeito afável e atencioso. Abre portas, puxa cadeiras, pede desculpas quando sai da frequência do interlocutor – e revela um leve sotaque manezinho, como se diz dos habitantes do litoral catarinense, mesmo sendo curitibano.

Às vezes ele tenta parecer o antipolítico. Em entrevistas logo depois do fim da sessão negou que estivesse buscando aquela posição privilegiada para alavancar sua candidatura.

Pra mim, ele repetiu a cantilena: “Eu sabia que estava sendo visto pela TV Câmara (que retransmitiu o sinal em rede nacional) porque me via no telão, mas não sabia que era visto pelo Brasil”.

Pode mesmo ter sido um engano. Pense nisto: se o próprio vice Michel Temer se enganou quando mandou aquele whatsapp revelando seus planos para o pós impeachment, por que iríamos suspeitar de alguma coisa adrede preparada por Fabrício?

Se pudesse ter falado no momento mudo mais alto de sua carreira, só sabe que teria dito “sim”. Não se deu ao trabalho de ensaiar nada na linha de Deus e família, acha que apenas “seria espontâneo”.

De onde surgiu o amor pela política? “Um amigo me convidou a entrar no PV” – o amigo é um dos maiores construtores da cidade.

Imagem pessoal: aparência de garotão de praia – loiro, olhos castanhos claros, pele queimada pelo sol, 1m80 e figura esbelta.

Hoje vestia calça jeans azul escura e camisa social de mangas arregaçadas, no mesmo tom. Sapatos pretos de bico fino, bem engraxados. Unhas manicuradas. Tudo pronto para ir a Floripa para ser entrevistado na televisão – sobre a ppapagaiada.

Fabrício não é um novato na política. Foi duas vezes vereador, depois secretário do governador Raimundo Colombo (PSD), presidiu a Junta Comercial do Estado e foi diretor-administrativo da Assembleia Legislativa, este um salário de mais de 40 mil mensais.

Está no Partido Socialista Brasileiro. Se fosse bicho, a seção catarinense do PSB seria um leão branquinho de orelhas compridas, pele zebrada, tromba e asas – tudo, menos socialista.

Fabrício reverencia a liderança de uma das últimas grandes raposas da direita brasileira, o ex-senador Jorge Bornhausen.

O partido não existia quando a família Bornhausen ficou sem espaço na segunda eleição de Dilma. O velho político levou sua tropa para apoiar Eduardo Campos – entronizando o filho Paulo como presidente do PSB catarinense. Quanto a Jorge, teve a dignidade de não sujar sua marca com a palavra “socialista” e atua só nos bastidores.

Como Fabrício virou socialista de carteirinha: “Eu entrei para o partido socialista pelo “social”, não pelo socialismo. Não tenho nenhuma vertente de esquerda”, afirmou.

Ele gosta de contar que chegou a Balneário Camboriú aos 11 anos, com os pais que “eram verdureiros” no Paraná.

Fabrício revela origem humilde: “Na adolescência eu vendia sorvetes na frente da boate Baturité”.

Point de várias gerações de baladeiros, foi a mais famosa do litoral nos anos 80 e 90 – hoje ela foi engolida pela concorrência de megaempresas de shows.

“Fui vendedor, depois bilheteiro, depois gerente, depois promoteur de baladas”, conta, orgulhoso da carreira de sucesso na noite – esqueceu de mencionar que a Baturité era um empreendimento de seu pai, já então afastado da venda de verduras. “Em algum momento fui sócio da boate, mas depois saí do negócio.”

Ele gosta de dizer que não dançava “porque tinha que trabalhar enquanto os outros se divertiam”.

Advogado formado pela Univali em 2000, fez a Escola do Ministério Público, mas desistiu da profissão e hoje se diz “consultor no ramo da alimentação” – uma continuação da carreira iniciada num dos restaurantes do pai, também chamado Baturité.

Na poĺítica, é uma estrela ascendente, agora alavancado pelo papagaísmo.

Ele disse que seu foco é “a gestão de BC”. Objetivo: tomar a cadeira do prefeito, ironicamente conhecido como “Periquito”.