Pesquisas internas indicam mudanças de voto de última hora como jamais visto, diz vice prefeita de SP. Por Zambarda

Atualizado em 1 de outubro de 2016 às 15:35
Nádia Campeão, vice prefeita de SP
Nádia Campeão, vice prefeita de SP

 

Os trackings, pesquisas internas dos partidos, apresentaram uma tendência similar nos últimos dias da eleição municipal em São Paulo. O levantamento solicitado pelo PT mostrou Dória com 32%, Russomano com 19%, Haddad com 17% e Marta com 11%.

Já o do PSDB trouxe Dória com 31%, Haddad e Russomano empatados em 19% e Marta com 10%. Por fim, a pesquisa do PMDB indicou Dória com 28%, Russomano com 18%, Haddad com 16% e Marta com 11%.

Esses resultados similares mostram que a campanha de Marta Suplicy derreteu diante do desempenho ruim de Michel Temer e exibem um avanço de Fernando Haddad contra Celso Russomanno.

No dia 28 de setembro, o Ibope mostrou Marta na frente de Haddad, com 16% contra 13%. Já as intenções de Russomanno e Doria estão alinhadas com os trackings, de 22% e 28% respectivamente.

Engenheira agrônoma formada pela ESALQ-USP, Nádia Campeão (58) é vice-prefeita da gestão Haddad, a segunda mulher a ocupar o cargo depois de Alda Marco Antonio com Gilberto Kassab. Filiada ao PCdoB, ela está acompanhando os trackings nestes últimos dias e relembra a pressão que existiu em 2012, quando as pesquisas não cogitavam Fernando Haddad como favorito e ele venceu José Serra do PSDB.

DCM: Como funcionam os trackings? O que eles apontam e São Paulo?

Nádia Campeão: Não sou especialista nessa modalidade de pesquisa e há bem menos do que parecem entre os partidos encomendadas aos institutos que fazem esse tipo de levantamento. Existe muito ruído nos trackings, porque todas as legendas fazem isso e alguns encomendam com mais de uma empresa.

Como existe muito repasse entre as instituições envolvidas, você fica realmente em dúvida a respeito da confiabilidade dos números e dos percentuais que são divulgados. No entanto, desde o dia 29 de setembro, o que fica claro é que há uma movimentação muito grande na inclinação dos eleitores.

Parece algo de uma campanha muito diferente das que fizemos anteriormente. Foi um período extremamente curto com discussão prensada nos últimos dias para definir voto. É um ambiente inseguro em que essas pesquisas foram estabelecidas, com disposição grande de mudar de voto.

DCM: Como assim?

NC: Embora declarem um voto, as pessoas consultadas nessas pesquisas não estão seguras da decisão, não sabem o número do candidato, entre outras coisas. Além do clima, aparentemente o Doria está consolidado no segundo turno das eleições.

A segunda vaga neste momento estaria sendo disputada entre Fernando Haddad e Celso Russomanno. Entre os dois, existe uma diferença importante. O Russomanno vem de uma curva descendente nas pesquisas, vem caindo, enquanto o Haddad está ascendendo. Esses movimentos vão contar muito.

Não tem mais horário eleitoral, não tem mais debate na TV aberta. Agora conta o corpo a corpo, qual candidato tem capilaridade, ou seja, capacidade de expansão, além da militância e muito ativismo na internet, experiência em rede social. Tudo isso são fatores que contam muito.

Mesmo com essa possibilidade do Haddad ir ao segundo turno, não me parece ainda que ocorreu um desempate definido.

DCM: A senhora participou de uma das campanhas mais dramáticas em 2012.  Haddad ganhou quando as pesquisas pesavam contra e em pleno julgamento do Mensalão. Há semelhança com a disputa de hoje?

NC: Eu acho a eleição hoje para prefeito de São Paulo pior. A anterior, de quatro anos atrás, foi muito dura em decorrência do Mensalão. Mas, naquele momento, nós estávamos com o governo federal muito atuante e com realizações boas. Agora, além existir o caso da Petrobras e a Lava Jato, atingindo Lula e Dilma, o afastamento da presidenta deixa o país numa posição econômica muito ruim. Isso gera uma rejeição maior e é duro fazer campanha política nesse quadro.

A atual eleição é dificílima e eu duvido que ela se repita da mesma forma, comparando até com os desafios de 2012.

DCM: Haddad deixou legado no transporte e na cidade. Mesmo se não for pro segundo turno ou perder para Doria, povo vai ver o retrocesso?

NC: Creio que sim. Se comparar com o governo da ex-prefeita Marta, quando ela foi derrotada ao tentar se reeleger em 2004, o cenário se tornou terrível. O candidato José Serra e Gilberto Kassab fizeram um trabalho intenso para desconstruir a Marta Suplicy. Ela poderia se reeleger e foi massacrada, tanto pelos meios de comunicação quanto pelas forças conservadoras.

Anos depois a população percebeu que fortalecer o Kassab tinha sido um erro. A medida que foi se mostrando o que era aquele governo que derrubou a Marta nas urnas, mais se valorizou uma mudança. Foi assim que ganhamos a eleição em 2012 para que as pessoas entendam.

Se uma candidatura do PSDB ganhar mesmo a atual disputa para prefeito em São Paulo, eu acredito que a reação aos cortes deles será quase imediata. Eles agora terão que se acertar com o governo Temer, que é muito diferente do auxílio que Lula deu para as gestões Serra e Gilberto Kassab. O país todo estava crescendo e hoje é diferente. Seja lá quem vencer terá que encarar uma reforma difícil.

Caso o Haddad perca para Doria, o que teremos será um governo neoliberal com apoio do LIDE, de gente que entende de mercado financeiro e de grandes empresas. Faltam políticas públicas e o João Doria ainda quer transportar o mundo corporativo pra dentro da prefeitura. Ele não faz isso de ingênuo, porque é um modelo.

O governo Fernando Haddad implantou políticas que serão avaliadas numa nova gestão, caso eles cortem.

DCM: O desastre de Temer na economia é responsável pela queda da Marta nas pesquisas? 

NC: Dois fatores atuaram no caso. Existiu sim uma identificação dela com o centro do governo Michel Temer e, no caso de eleitores mais conscientes, houve uma decepção com o voto que Marta deu ao impeachment de Dilma, ao golpe.

O eleitor tradicional da Marta, de centro-esquerda, sentiu decepção com o posicionamento da candidata. Eles podem falar que não é bem isso, que a reforma trabalhista do Temer não vai prejudicar as pessoas, ou mesmo a mudança do Ensino Médio feita sem aprovação de especialistas.

Marta Suplicy defendeu isso de maneira acrítica. Ela mostrou que está também aliada ao Kassab e ao Serra, por ter o Andrea Matarazzo como vice. Estivemos com ela em 2004 e em 2008, quando eles eram adversários. É muito contraditório o que aconteceu e ela definitivamente mudou de lado.

Ela fez aliança com os responsáveis por suas sucessivas derrotas. É o caso diferente do Doria que passou essa disputa quase sem ser confrontado. Isso pode ser mais explorado no segundo turno. Haddad pode ser muito duro, porque o PSDB fez uma construção muito artificial do candidato.

 

DCM: Independentemente do resultado das eleições, a senhora não será mais vice e dará espaço ao Gabriel Chalita. O que a senhora fará no futuro?

NC: Se o prefeito Haddad ganhar a eleição, tenho um compromisso de continuar compondo o governo para ter responsabilidade no futuro do projeto. Estou na coordenação no projeto de continuidade. Vamos ainda conversar como será a minha participação e em qual função.

Eu permaneceria no futuro governo, mas a maior preocupação é a disputa. A futura gestão a gente vê depois.

A experiência com Haddad nos quatro anos foi positiva e foi algo que eu nunca tinha vivido antes. Com a Marta eu trabalhei focada no setor de Esportes. Atualmente fiz um trabalho mais focado em educação com responsabilidade.

Se o Fernando Haddad se reelege, não vai faltar trabalho.

DCM: A senhora foi a segunda mulher a ocupar o cargo de vice-prefeita. Políticas pra mulheres melhorou na gestão Haddad?

NC: Acredito que sim e essa é uma marca da esquerda no governo. Mulheres, LGBTs e negros receberam políticas públicas municipais novas. O Haddad no primeiro mês consolidou a Secretaria de Direitos Humanos, políticas femininas e grupos para debater igualdade racial. Como isso foi feito no começo, tivemos quatro anos para desenvolver os temas.

As secretarias se fortaleceram, tem locais de funcionamento e ajudam na Câmara e atuam numa estrutura montada, sem improviso. Habitação, Saúde, Segurança Urbana e outras secretarias conversam com esses temas. No caso dos conselhos, 50% são compostos por mulheres.