Petistas como Zarattini não aprenderam com o golpe e agora são contra prisão de Aécio. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 21 de junho de 2017 às 13:09
Aécio Neves já tem muitos defensores, não precisa do PT

O deputado federal Carlos Zarattini, líder do PT na Câmara, considera um equívoco torcer pela cadeia de Aécio Neves, segundo citação dele em O Estado de S. Paulo.

“Ele é um senador. Sendo assim, só poderia ser preso se fosse em flagrante ou se estivesse cometendo um crime continuado”, afirmou.

Filho de um militante de esquerda que foi preso e torturado pela ditadura militar, Zarattini tem muito mais motivo que a maioria das pessoas de rejeitar medidas de coerção, seja contra quem quer que seja, inclusive para um adversário político dele, como Aécio Neves.

Nenhuma pessoa civilizada defende cadeia como vingança ou ato de perseguição.

O problema é que Aécio preenche uma das condições lembradas por Zarattini para a prisão: o crime em flagrante.

Tecnicamente, Aécio cometeu um crime em flagrante quando o primo dele, Frederico Pacheco de Medeiros, recolheu as malas com dinheiro na sede da JBS.

É Frederico quem aparece nos registros em vídeo contando os maços de notas de 50 reais e depois, no estacionamento da JBS, repassando o dinheiro a um assessor do senador Zezé Perrella.

Mas é como se Aécio estivesse lá.

Frederico não passa de um longa manus – mão estendida de Aécio –, cumpridor de uma tarefa acertada entre o presidente nacional do PSDB e Joesley Batista.

Aécio tem tanto domínio sobre a ação de Frederico que disse que poderia até matá-lo antes que delatasse.

A expressão foi irônica, mas tem um sentido sério: revela que controla Frederico.

A Polícia Federal, que estava monitorando o flagrante, poderia prender Frederico ali mesmo e, em tese, também Aécio, este com autorização do Supremo.

A prisão só não foi feita porque a legislação brasileira admite a ação controlada, isto é, a polícia acompanha o desenrolar da ação, com controle sobre ela, para pegar outros criminosos – no caso, os policiais chegaram até o assessor de Perrella e reuniram indícios de que uma empresa da família do também senador por Minas lava dinheiro de Aécio.

Não tivessem controlado a ação, os policiais não chegariam até esse ponto.

Terminada a ação controlada, a polícia, então, poderia prender os criminosos, inclusive os cabeças, no caso Aécio e Joesley, este, delator, tem os benefícios da colaboração.

O ministro Édson Fachin, apesar do pedido do procurador geral da República, preferiu outro caminho: prendeu os executores e, no caso de um dos cabeças, preferiu afastar Aécio do Senado e mandou prender os demais envolvidos.

O líder do PT Zaranttini diz ainda que a reunião de Aécio com a cúpula do PSDB não pode ser entendida como obstrução da justiça, já que ele é um senador e reuniões políticas fazem parte da sua rotina.

Pode não ser obstrução da Justiça, mas com certeza é desobediência à determinação do ministro do Supremo, que, em vez de prendê-lo, decidiu restringir alguns dos seus direitos como detentor de mandato parlamentar.

Um deles era não se reunir com outros investigados da Operação Lava Jato.

José Serra, que apareceu algumas vezes entrando e saindo da casa do presidente do PSDB, é um dos políticos mais investigados na Lava Jato.

Portanto, a defesa que Zarattini faz, por princípio, dos direitos de Aécio não se justifica.

É mais uma das manifestações ditas republicanas de um partido que colocou adversários na cúpula do Poder Judiciário e hoje sofre as consequências.

Parece também o temor de que, prendendo Aécio, o próximo a ser encarcerado seja Lula.

Nem de longe, em relação a Lula, há alguma situação parecida com o flagrante documentado de Aécio.

Muitos petistas não se deram conta de que, prendendo Aécio ou não, o que está em jogo é a destruição do partido e, para isso, a prisão de Lula é uma etapa planejada.

Com a revelação dos crimes dos tucanos e da turma de Michel Temer (ou seria gangue?), politicamente esse plano perdeu força. Mas ele ainda está aí, pronto para ser detonado.

E não é a defesa que petistas fazem de Aécio que poderia evitá-la.

Do outro lado, as forças para livrar Michel Temer, os tucanos e seus aliados estão em pleno movimento e, nesse caso, não há republicanismo.

É só ver o empenho de Alexandre de Moraes, o ministro nomeado por Temer, para tirar Andrea Neves da cadeia, na sessão desta terça-feira.

Voltarão a carga, para tentar tirar de Édson Fachin a relatoria da delação da JBS e tentarão, de todas as maneiras, nomear um cúmplice para a Procuradoria Geral da República, em setembro.

Aparelhar as instituições do poder público foi o que Aécio e a irmã fizeram e Minas Gerais.

É o que agora está sendo feito em nível federal.

Aécio disse a Joesley, em conversa gravada, qual era seu plano.

O Congresso Nacional está dominado.

O Ministério da Justiça teve troca de comando.

Alexandre de Moraes foi para o Supremo.

Aécio não disse, mas faz sentido:

A Abin foi revigorada e hoje, em palestras para empresários, os militares que estão no comando da agência dizem que um dos obstáculos para o pleno exercício de suas funções é a política de direitos humanos — será que querem a volta das tortura para obter informações?

E vem muito mais por aí.

Afinal, este é o golpe.

Michel Temer é só uma etapa.