Por que Alckmin articula o pedido de expulsão de 7 membros da executiva do PSDB. Por José Cássio

Atualizado em 30 de junho de 2016 às 11:51
Juntos e ao vivo
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Enquanto o grupo de Serra, Alberto Goldman e José Aníbal aguarda a decisão da Justiça pela cassação da pré-candidatura de João Doria por “compra” de apoio de delegados e “abuso” de poder econômico nas prévias do partido, agora é a vez do governador Geraldo Alckmin dar o troco.

Nessa semana, um filiado de Santo Amaro, Vladimir Prado, protocolou na Comissão de Ética do diretório do partido um pedido de “expulsão” de sete membros da Executiva municipal.

Vladimir Prado, um ilustre desconhecido da militância e por isso mesmo visto como “testa de ferro” da dupla Geraldo-João Doria, alega incompatibilidade ideológica e traição partidária por conta dos filiados serem ligados e estarem acompanhando a agenda política de Andrea Matarazzo – ao ser derrotado nas prévias, Matarazzo deixou o PSDB para disputar a prefeitura pelo PSD do ministro interino de Michel Temer, Gilberto Kassab.

Entre os dirigentes que podem ser expulsos está Fernando Guimarães, pessedebista histórico e coordenador de uma das correntes internas mais influentes do partido, a “Esquerda pra valer”.

Além de Guimarães estão na lista Silvio Silva, Rita Ribeiro, Rodolpho Barbosa Pereira, Glaucio Franca, Marcelina Conceição (Ciça) e Claudinei Inocêncio.

A representação de Vladimir Prado se junta a outras 16 já protocoladas no Conselho de Ética em menos de 12 meses – fruto das divergências internas decorrentes da escolha do candidato a prefeito nas eleições de outubro.

Conciliador por natureza, o presidente do diretório, vereador Mário Covas Neto, o Zuzinha, acolhe os pedidos, faz um discurso empolado defendendo a democracia interna e promete que tudo será rigorosamente encaminhado e analisado com isenção.

Bobagem. O real objetivo dessas representações, bem como seus destinos – uma gaveta velha e empoeirada no decadente prédio da rua Sete de Abril, 59, terceiro andar – é outro: desestabilizar emocionalmente grupos adversários, desta vez com o componente covarde de ameaçar militantes, ou seja, o elo mais fraco da corrente.

Fui à Câmara municipal atrás de uma declaração do vereador Andrea Matarazzo.

Saber dele que tipo de interferência ainda exerce sobre militantes do ex-partido e se essa é uma das suas estratégias para tirar votos de Doria e garantir sua ida para o segundo turno da eleição.

De forma polida, Andrea mandou dizer que preferia não comentar.

Recorri então a um estudioso, o cientista político Claudio Couto, professor da Fundação Getúlio Vargas. Afinal, quem abriu a “caixa de pandora” do ninho tucano?

O professor não tem dúvida, embora prefira não citar nomes explicitamente: o nome é Geraldo Alckmin – mora no Palácio dos Bandeirantes e não pensa em outra coisa a não ser mudar de endereço em janeiro de 2019 e ocupar a cama em que hoje se deita o golpista Michel Temer no Palácio do Alvorada.

“O PSDB virou um partido que tem dono”, diz o professor Claudio Couto. “Alguém que projeta seus interesses e subordina toda uma estrutura a eles – no caso garantir a candidatura e a eleição de Doria”.

Quanto ao pedido de “expulsão” dos filiados, Couto ressalta que a medida é inapropriada.

“Se esses militantes não cometeram transgressão não há motivo para expulsá-los”, diz. “Devemos considerar que as divergências internas fazem parte da conjuntura partidária e punir alguém por não ter defendido uma determinada candidatura é um absurdo”.

No início do ano, Alckmin e João Doria foram acusados – há até uma representação na Justiça pedindo punição – de comprar apoio de delegados e ameaçar filiados “pendurados” na máquina estatal caso se negassem a “trabalhar” pela candidatura do pupilo do governador.

O objetivo explícito, anunciado pelo deputado federal Silvio Torres aos militantes do PSDB num encontro de apoiadores na Fecomercio, é tornar a candidatura e eventual vitória de Doria o pontapé inicial para o projeto Geraldo-2018.

“Geraldo é o nosso líder”, discursos naquele dia o deputado estadual Barros Munhoz. “É ele que vai nos levar ao comando do poder central. Mas para isso antes temos de eleger João Doria prefeito de São Paulo. Ele é parte da nossa estratégia”.

Se a Justiça não impedir a pré-candidatura do publicitário, como tudo indica, Doria será oficialmente declarado candidato neste mês de julho – a data limite para a convenção é 5 de agosto.

Precavido, Alckmin continua avançando e botando a máquina do Estado a serviço de si próprio e na perspectiva de atrapalhar a vida de Matarazzo.

Nesta semana, aos outros cinco partidos que já estavam na base (PSB, PP, DEM, PMB e PHS) comemorou a adesão de mais um nanico: o PV do folclórico (põe folclórico nisso!) José Luiz Penna, que veio depois de garantir a sua boquinha na secretaria estadual da Cultura.

Seja na base, ameaçando pobres militantes, ou no andar de cima, abrindo os cofres da máquina para deleite de gente sem qualificação e que se vende na cara dura, Geraldo vai levando o seu barquinho com a perspectiva de que, com São Paulo na mão, vai ganhar musculatura suficiente para chegar lá.

Ao que tudo indica, Serra, FHC, Goldman, Arnaldo Madeira e Andrea Matarazzo ficaram na estrada comendo poeira.

Tirar da frente militantes impertinentes é tão simples quanto tomar doce de criança – a representação no Conselho de Ética assinada por um militante que ninguém conhece, como é o caso do pau mandado Vladimir Prado, é um exemplo didático.

O desafio a partir de agora será combinar com os eleitores. O que resta saber é se eles vão aderir.