Por que as manifestações pró impeachment são coniventes com os golpistas

Atualizado em 3 de dezembro de 2014 às 18:15

marcha1

Quem passou pela Av. Paulista no último sábado deu de cara com mais uma manifestação pró-impeachment. Aparentemente com menos força ou menos ânimo, mas lá ainda.

Eu fui, desavisado, para a Rua Augusta, e acabei cruzando com a passeata. Notei um detalhe: não havia placas pró-ditadura desta vez – ou não que eu tenha visto.

Achei interessante e perguntei. A maioria, que não apoia a tal intervenção militar, pediu para que a turma que apoia se retirasse ou escondesse os cartazes, porque “a mídia estava usando eles para deslegitimar as manifestações”.

Isso quem me disse foi uma senhora que voltava para casa com suas roupas de cores da bandeira nacional. “A manifestação não pede isso”, disse.

Gostei do que ouvi, porque impeachment é parte da democracia, e golpe, não. Eu posso até achar ridículos os pedidos de impeachment, mas é algo, ao menos, dentro de uma legitimidade mínima. Reacionários também podem se manifestar, e eles estão ali defendendo seus interesses.

Ao descer a Rua Augusta, comecei a montar um quebra-cabeças mental com as informações que a senhora me havia dado.

Encontrei uma falha nessa versão.

A manifestação não pede uma intervenção militar?

Bem, há vídeos de pessoas que por qualquer motivo (em geral uma roupa vermelha) são maltratadas no evento. Chamados de comunistas, várias delas inclusive pareciam correr risco de linchamento.

Pode parecer que isso não tem nada a ver com o assunto, mas tem. Eis o parâmetro do que é inaceitável naquele grupo: ser (ou parecer) comunista é inaceitável. Vale uns sopapos. Ser apoiador de um golpe militar, não. Ali, eles foram incluídos enquanto faziam número, e foram excluídos quando “deslegitimaram” o movimento.

Onde estão as pessoas agredindo os golpistas com a mesma animação com que agridem os comunistas?

Não há.

Com quem clama por golpe, pede-se que esconda as placas e ainda dá-se um argumento, se é verdade o que me contou a senhora que descia a Rua Augusta para o lado dos Jardins.

Trocando em miúdos, um golpe de direita pode não ser o que pedem os organizadores do evento, mas é, naquele ambiente, mais aceitável do que uma democracia de esquerda, ou do que eles consideram ser esquerda/comunismo/marxismo/cuba.

Eu, evidentemente não defendo agressões a qualquer pessoa. Gostaria que não houvesse para nenhuma delas, mas devo apontar a diferença de tratamento.

Juntando esse quebra-cabeças, e, depois de um sopro de esperança, novamente bateu a vontade de chorar pela humanidade. Eu então desci a Rua Augusta e, ainda de dia, me enfiei num bar escuro para só sair quando o sol iluminasse a casa dos avós do meu querido LH Tashibana no Japão.