Por que as pessoas querem ouvir Francisco e não querem ouvir Aécio

Atualizado em 24 de outubro de 2014 às 16:22
Aécio Boladão
O símbolo da campanha de Aécio

 

Duas pessoas que querem conversar. Uma se chama Francisco. A outra se chama Aécio.

Francisco fala da desigualdade que aflige o mundo. Critica a ganância que leva tão poucos a terem tanto. Defende os pobres incondicionalmente. Fica claramente feliz quando está no meio deles.

A defesa entusiasmada e intransigente dos pobres fez de Francisco, para muitos, a personalidade mais fascinante do mundo, no pouco tempo que a humanidade teve para conhecê-lo.

Levou também a ataques por parte dos que defendem a iniquidade. A direita americana chamou Francisco de marxista.

Francisco disse que não é marxista, e de fato seria curioso um papa adotar o marxismo, uma doutrina que diz que a religião é o ópio do povo.

Mas disse com amor, como sempre: Francisco afirmou que tem amigos marxistas, e que são em geral boas pessoas.

Por tudo isso, todo mundo quer ouvir a voz de Francisco por um mundo novo.

E então vamos a Aécio.

Ele quer conversar com os brasileiros, como disse este ano. Vamos ver o que ele tem a dizer.

Numa entrevista a uma rádio de Pernambuco publicada ontem pelo site do PSDB, Aécio falou de sua visão de futuro.

Ele estava numa região que é o símbolo da iniquidade brasileira. O Nordeste foi tratado, ao longo dos séculos, a pontapés pela elite sulista brasileira.

Mas ele não falou de desigualdade. Não falou dos pobres. Não falou da ganância. Não falou que é triste o mundo tão iníquo.

Em vez disso, Aécio prometeu um governo mais enxuto e mais eficiente.

A agenda mundial é a iniquidade. Não é só o papa que retrata isso. Em Nova York, o candidato que se elegeu prefeito com uma vitória esmagadora centrou sua campanha nisso.

Falou que não pode haver tantos pobres em Nova York. Abraçou-os. Tomou o lado deles contra Wall Street e sua plutocracia predadora. E teve uma das vitórias mais acachapantes da história de Nova York.

Isso em Nova York. Ao povo sofrido do Nordeste brasileiro, Aécio fala de um governo mais enxuto. E quer ser ouvido.

Fala também de um ética. Como se 2013 não tivesse terminando sem que os brasileiros nada soubessem sobre a meia tonelada de cocaína apanhada num helicóptero de uma família amiga dele, os Perrellas.

Como se seu partido não estivesse no meio de um formidável escândalo ligado a propinas no Metrô de São Paulo.

Tudo isso posto, todo mundo quer ouvir Francisco. Tudo mundo quer falar com ele.

E ninguém parece muito interessado na conversa que Aécio propôs.

Entendamos. Se Francisco tivesse proposto um Vaticano “mais enxuto e mais eficiente” ele estaria falando sozinho, como tantos papas antes dele.

Estaria numa solidão patética, como Aécio no Brasil com uma conversa que mostra uma desconexão total com a realidade.