Por que Ciro Gomes merece aplausos ao enxotar os fascistas de sua rua. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 19 de março de 2016 às 22:00

. A fotógrafa Monique Ranauro deixou o seguinte depoimento em seu Facebook:

“Saí de casa pra comprar batata inglesa com a Mia que estava adormecida em meus braços, trajando um macacão da Minnie.

Fomos abordadas por um motoqueiro a poucos metros de casa. Achei que fôssemos ser assaltadas ou ele ia levar minha filha. Quase vomitei, nervosa.

O homem se aproximou de nós com a moto e sem tirar o capacete, me chamou de puta.

Disse que se eu não fosse pra casa ele iria dar tiro em mim e na minha filha (uma bebê de 5 meses). Eu não tive reação (e permaneço não tendo).

Saí apressada, trêmula, ouvindo ele me chamar de puta e desgraçada por vestir a criança de vermelho.

Quase caí com a Mia e segui apressada sem olhar pra trás.

(…)

Várias pessoas na rua e ninguém nos ajudou. Ninguém fez nada.”

minnie

 

. Meu filho Antônio, de 11 anos, vem recebendo mensagens “patrióticas” no grupo de amigos do WhatsApp. O mais recente diz assim:

“Movimento Brasil de luto. Amanhã, dia 17 de março, todos que estão indignados com a nomeação de Lula como ministro devem sair vestidos com camisa preta.

Se cada brasileiro repassar para 2 amigos, em pouco tempo teremos o Brasil inteiro ciente dessa iniciativa”.

. Minha amiga Roberta e o namorado, Fábio, foram xingados num supermercado nos Jardins na noite de 18 de março. Um casal perguntou o que ele estava fazendo de vermelho. Sem esperar resposta, Roberta e Fábio começaram a ser hostilizados. Ninguém fez nada.

. A estudante Isadora Schutte foi cercada e espancada por uma canalha na Paulista por que se recusou a entrar no coro de “Fora Lula”. Tomou socos, foi empurrada, atirada ao chão, enquanto ouvia coisas do tipo “a bicicleta é vermelha, vai pra cuba” e “putinha comunista”. Ninguém fez nada.

Certamente você conhece mais histórias como essas. Uma tensão se instalou artificialmente no país e vai levar tempo para se dispersar.

O medo está nas ruas, nos bares, nas famílias. Foi bom fazer troça dos coxinhas. Eles merecem a piada. Eles são patéticos. Mas não tem mais graça. Enquanto você ri, eles batem.

Vou poupar você daquele poema de Eduardo Alves da Costa, que já foi atribuído a Brecht, Chitãozinho, Mandela e Roberto Carlos (Na primeira noite eles se aproximam/e roubam uma flor do nosso jardim/E não dizemos nada/Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada/etc).

Mas os bárbaros estão nos portões.

Aplaudo Ciro Gomes e sua investida contra o bando que foi incomodá-lo de madrugada. Jovens vestidos com camisas da CBF foram montar seu circo em frente ao apartamento de Cid Gomes, seu irmão.

Ciro desceu ao térreo e partiu para cima, armado da barriga, do dedo em riste e do famoso destempero. “Amanhã é na sua casa. Eu estou protegendo você, seu filho da puta”, diz. O fascista não entende, naturalmente.

A tolerância e o diálogo são lindos. Mas amanhã a condução coercitiva é na sua casa. Amanhã uma milícia aparecerá no seu vizinho.

A ira santa de Ciro é didática e, nesse momento, necessária. Você pode se omitir, achando que isso vai livrá-lo de problemas. Mas seu primo não será poupado.

Maldito seja o inocente útil que participa de protestos eivados de ódio fingindo que acha que é pelo fim da corrupção e pela moralização.

Amanhã é na casa dele. E quem vai protegê-lo? O Ciro?