Por que Doria não se fantasiou de bombeiro para combater o incêndio em Paraisópolis? Por Kiko Nogueira

Atualizado em 2 de março de 2017 às 18:38
Incêndio em Paraisópolis, a "Etiópia", segundo Bia Doria
Incêndio em Paraisópolis, a “Etiópia”, segundo Bia Doria

 

Um incêndio destruiu pelo menos 50 barracos em Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, na quarta-feira, dia 1º.

Os moradores, deixados um bom tempo ao deus dará, tentaram apagar as chamas com baldes d’água.  “Muito fogo, parecia filme de terror, que vem devorando tudo”, disse o pizzaiolo José Odair da Silva ao G1.

“Só deu tempo de eu entrar e pegar as coisas. Já estava esquentando tudo”, falou a dona de casa Daniela Silva. “Vou ficar no meio da rua agora.”

O fogo, que começou pela manhã, só foi controlado pelo Corpo de Bombeiros às 17h. Ainda não se sabe o número de desabrigados.

Paraisópolis é a segunda maior favela da capital, menor apenas que a de Heliópolis. Sua localização, vizinha aos edifícios de luxo no Morumbi, é emblemática da iniquidade social brasileira.

Em junho de 2016, durante a campanha para a prefeitura, João Doria Jr. esteve lá com seu padrinho Geraldo Alckmin. Posou para fotos. Seu desconforto fica patente, como você pode ver na imagem do final deste texto. Muitos ali votaram no “João Trabalhador”.

Em outubro, a mulher de Doria, Bia, deu uma entrevista à Folha de S.Paulo que tornou-se antológica.

“No Morumbi tem aquela favela, né? Paraisópolis. Ali é a Etiópia, mas eles respiram o mesmo ar, sentem o mesmo frio que a gente. Essa desigualdade tem que diminuir. Não adianta ter uma funcionária que chega no ateliê e tem problemas de nutrição”, disse ela.

Doria não se manifestou sobre o que houve em Paraisópolis. Sua postagem mais recente, no momento em que concluo essas mal traçadas, é sobre uma “entrevista” com Roger, do Ultraje.

Ele Já se fantasiou de gari, jardineiro, operador de ar comprimido, cadeirante, o diabo — mas nem pensou em colocar a roupinha de bombeiro e correr para onde era realmente necessário.

Essa é a natureza de seu estilo populista. Muito barulho e muita espuma onde isso não é necessário, mas rende um videozinho para o Facebook.

Uma coisa é sair com Regina Duarte para varrer ruas já varridas. Outra, bem diferente, é ser útil na Etiópia perto de casa.

E outra, ainda, é ser prefeito.

Doria e Alckmin em Paraisópolis na campanha: nunca mais voltou
Doria e Alckmin em Paraisópolis na campanha: nunca mais voltou