Por que Doria não se fantasiou de homem-rã para trabalhar na enchente do Tietê? Por Kiko Nogueira

Atualizado em 7 de abril de 2017 às 17:36
São Paulo, abril de 2017. João Doria não estava aqui
São Paulo, abril de 2017. João Doria não esteve aqui

 

Em 2012, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, fez uma promessa ao jornalista Joseval Peixoto: em três anos, o rio Tietê estaria tão limpo que ele o convidaria a pescar lambaris por lá.

Geraldo não operou o milagre dos peixes, como se sabe. Em compensação, tirou de sua costela João Doria, uma invenção à base de botox e marketing.

Os paulistanos acordaram na sexta feira, dia 7, com uma cena que se repete eternamente, como as faixas de um disco de Ivete Sangalo.

A chuva fez com que o defunto Tietê transbordasse e interditasse um trecho da Marginal. 

Três pontos transbordaram: Ponte do Piqueri, Barragem Móvel Montante e na Barragem Móvel Jusante. Carros não puderam transitar desde a Ponte das Bandeiras.

Motoristas de caminhões tiveram que subir no teto do veículo e o esgoto invadiu casas, ruas e escolas. O Bom Retiro naufragou.

O horror, o horror.

Ao contrário do que fez quando as chamas de um incêndio lamberam barracos na favela de Paraisópolis, Doria teve que dar as caras.

Curiosamente, o prefeito que tem fetiche por uniformes não estava fantasiado de homem rã. Em seu primeiro teste real, o “gestor” executou o número clássico de todo político: deu uma desculpa para enganar trouxa.

A conversa mole é a de que caiu mais água do que no tempo de Noé.

“Choveu em 24h o que choveria em 30 dias. Choveu 30 vezes mais do que a normalidade para um período desse”, falou, com eventuais variações sobre o mesmo tema. Avisou que ia abonar as multas de rodízio. E bola pra frente.

Ora.

Em março, Doria deslocou 30 milhões de reais de verbas de ações contra enchentes e para a construção de uma ponte e os enfiou na Secretaria de Desestatização e Parcerias, uma das vitrines de sua gestão.

As obras do Tietê são o grande legado dos governos tucanos. Há 23 anos há um projeto de despoluição, que já havia carcomido mais de 8 bilhões de reais até 2015 (a transposição do São Francisco saiu por volta de 10 bi).

O trecho que atravessa a capital paulista consumiu metade dessa quantia. Oficialmente, fala-se em mais dez anos até que aquilo volte a ser limpo, um prazo francamente fictício.

Haveria uma esperança de salvar aquela cloaca se gente como Doria se dedicasse a trabalhar um pouco ao invés de, por exemplo, gravar um jabá por dia.

Como isso não é da natureza do nosso menino sexagenário e nem de seu tio, resta ao cidadão mergulhar no caos, aceitar seu destino e rezar para que a precipitação da água das nuvens para a terra deixe de ocorrer.