Por que FHC anda falando demais? Porque quer voltar à presidência. Por José Cássio

Atualizado em 28 de setembro de 2016 às 20:10
Silvio Santos vem aí
Silvio Santos vem aí

 

A figura de Fernando Henrique Cardoso tornou-se onipresente nos noticiários, seja para criticar o atual governo ou arranjar motivos que justifiquem a cassação de Dilma.

Como tudo na política, há sempre um motivo por trás de cada movimento – e não seria diferente para o ex-presidente. Especula-se que FHC deseja alcançar novamente a presidência, desta vez numa escolha indireta por deputados e senadores.

Essa possibilidade consta no artigo 81 da Constituição, segundo o qual, vagando os cargos de presidente e vice nos dois últimos anos do mandato presidencial, a eleição para ambas as vagas será feita pelo Congresso. Trocando em miúdos, significa que, para FHC chegar lá pela terceira vez, basta Temer cair a partir do Réveillon.

Nos tempos áureos em que exercia forte influência intelectual, FHC não se cansava de dizer que seu sonho era um dia tornar-se presidente ou cardeal – aliás a função que exerce hoje com maestria, muito mais que a de ex-presidente.

Expressa, assim, seu gosto pelo poder.

Um gosto tamanho que, nas eleições municipais de 1984, em que era candidato em São Paulo, fez com que tirasse uma foto na cadeira do prefeito um dia antes de ser derrotado nas urnas por Jânio Quadros. Um mico que ficará marcado para sempre na sua biografia.

No governo de Itamar Franco, que substituiu o deposto Fernando Collor, o aspirante a cardeal iniciaria enfim sua jornada rumo ao seu sonho maior.

Foi ministro das Relações Exteriores até 1993, quando passou ao ministério da Fazenda e, depois, a candidato vitorioso.

Quando foi eleito presidente, o mandato vigente era de cinco anos sem a possibilidade de reeleição. Mas o tucano mal assumiu e já começou a mover mundos, e inclusive fundos, para garantir que a emenda da reeleição fosse aprovada.

Houve um grande esforço nesta direção, por mais que FHC negue.

Sérgio Motta, ministro das Comunicações e principal articulador do governo, era responsável por garantir o apoio no Congresso. A emenda, aprovada em 1997, modificou o tempo do mandato presidencial para quatro anos, com a possibilidade de um novo mandato. Após a votação, deputados revelaram que tinham recebido dinheiro para votar a favor e que tudo era tratado diretamente com Motta.

Apesar disso, FHC não pode receber os louros sozinho quando se trata de manobras para chegar ao poder a qualquer preço: seu partido tem tradição nesse quesito, basta ver que foi um dos sustentáculos do impeachment de Dilma.

Uma prova é a obsessão de Aécio, chegando inclusive a dizer, em ato falho, que ele próprio havia sido reeleito presidente. Serra, por sua vez, embarcou no governo Temer na ilusão de tornar-se o czar da economia e tirar o país da bancarrota.

Repetiria, assim, os passos de FHC sob Itamar Franco. Mas acabou virando carta fora do baralho – à certeza de Temer de que não é era pessoa ideal para a Economia, some-se a sua desastrada gestão nas Relações Exteriores.

Com Aécio multi delatado na Lava Jato e Serra em desgraça, resta quem além de FHC para dar um desfecho minimamente digno no golpe do golpe?

É esperar a champanhe pra ver.