Por que Janot foi tão lento para pedir o afastamento de Cunha? Por Paulo Nogueira

Atualizado em 20 de dezembro de 2015 às 9:56
Lentidão monstruosa
Lentidão monstruosa

Existe uma máxima romana que levo sempre na mente. “Apresse-se lentamente.” Ela é atribuída ao imperador Otávio Augusto. Aja com reflexão – mas rápido. Este o sentido.

Janot ou não a conhece ou não a segue, como ficou claro no caso Eduardo Cunha.

Sua insuportável demora em pedir ao STF o afastamento de Cunha deu uma contribuição milionária para a crise política que se abateu sobre o país.

Cunha é ligeiro demais, sem escrúpulos demais, para a baixa velocidade dos que deveriam deter sua escalada criminosa.

De tudo isso, fica para o futuro uma tentativa de resposta para uma das questões mais intrigantes de 2015: por que Janot demorou tanto para agir?

Desde que os suíços provaram a existência de contas não declaradas de Cunha na Suíça, não havia mais nenhum motivo para deixar Cunha com as mãos livres para reagir a seu modo.

Equivaleu a deixar um terrorista com uma bomba nas mãos. Coisa boa ele não vai fazer com a bomba.

A lentidão pavorosa de Janot fica sublinhada pelo documento no qual ele próprio pediu o afastamento de Cunha.

Ali está dito que, pelo menos desde 2012, Eduardo Cunha faz comércio de medidas no Congresso feitas para beneficiar empresas e empresários.

Com isso ele levantou dinheiro suficiente não apenas para enriquecer pessoalmente, mas para aliciar cúmplices em seus crimes na Câmara.

Os empresários o compraram. E ele comprou deputados que lhe garantiram aprovar o que quisesse.

Com plena liberdade para agir, ele pôde abrir o processo de impeachment que agravou extraordinariamente a crise política.

Teve aí como comparsas homens como Aécio, dispostos a tudo para promover um golpe, incluído aí fingir não saberem o tipo de gangster que estavam protegendo, afagando e estimulando.

A capacidade de manobra de Cunha se estamparia também, logo depois, nas trapaças para montar um rito de procedimento que, na prática, significaria a vitória por antecipação do golpe.

Em meio a tudo isso, ele também manobrou para torpedear os trabalhos da Comissão de Ética que poderia e deveria cassá-lo.

Destituído por artimanhas de Cunha, o relator da Comissão de Ética narrou a tortura mental pela qual passou depois que aceitou o prosseguimento do processo.

Recebeu ameaças daquelas que você vê em filmes da máfia. E tudo isso sem nada que refreasse Eduardo Cunha.

Onde estava Janot?

Em que momento, ao longo do copioso relatório que ele montou para pedir o afastamento de Cunha, viu seu grau de periculosidade? Não pode ter sido apenas ao colocar o ponto final no texto.

Você não pode dar tempo a pessoas como Cunha. Acuadas, elas são capazes de qualquer coisa. (E impõem-se aqui estrondosas vaias ao ministro Teori Zavascki por haver deixado apenas para depois do recesso do STF a apreciação da denúncia de Janot.)

Num mundo menos imperfeito, Janot viria a público, em nome da transparência, explicar por que foi tão lento.

Janot não se apressou lentamente, como sugere a ancestralmente sábia sentença romana.

Ele não foi apenas lento. Foi monstruosamente lento.