Por que o Estadão vai morrer sem encontrar comprador

Atualizado em 17 de outubro de 2014 às 17:32
Bye
Bye

Noto, num supermercado, um anúncio da Veja. Aparece, nas Páginas Amarelas, alguém que não tenho tempo de saber quem é. Mas consigo ler o título. Era mais ou menos o seguinte: “Quanto mais aberto o mercado, melhor”.

Ri sozinho.

A mídia brasileira, com seu descaro torrencial, sempre defendeu ardorosamente o mercado livre – exceto para ela mesma.

Seus leitores provavelmente não sabem, mas a mídia goza de uma inexpugnável reserva de mercado. Concorrentes estrangeiros estão proibidos de atuar no Brasil. Podem ter, no máximo, 30% das ações.

Já contei aqui um artigo relativamente recente no qual o Globo defendeu a reserva de mercado. O autor era o novato do STF, Barroso, então advogado da Abert, associação responsável pelo lobby da Globo em Brasília.

Barroso dizia que as novelas eram patrimônio nacional, e que correríamos um sério risco caso uma emissora chinesa se instalasse no Brasil e fizesse propaganda de Mao.

Pausa para rir.

Essa reserva de mercado, somada a outras mamatas estatais como empréstimos com dinheiro público a juros maternos, trouxe o resultado previsível. As grandes corporações de mídia sempre foram extraordinariamente maladministradas por causa da falta de concorrência externa.

E agora a reserva traz um interessante efeito colateral: as empresas de mídia – quase todas combalidas em consequência da internet — não conseguem encontrar compradores.

Murdoch seria um comprador potencial para algum jornal, para ficar num caso. Mas ele está impedido pela reserva.

E é dentro dessa lógica que agoniza o Estadão. Vazou que um banco procurou a Globo para ver se ela estava interessada em comprar o jornal.

Não estava. A Globo já tem uma bomba nas mãos, seu próprio jornal.

O mercado nacional é demasiado limitado quando você procura compradores com muita caixa para comprar um jornal como o Estadão.

Mas não existe alternativa: eventuais interessados de fora estão vedados pela lei.

Há uma espécie de justiça poética nisso. As companhias de mídia se beneficiaram amplamente da reserva que elas impuseram com seu poder de força. E agora vão pagar o preço dessa esperteza abjeta.

Elas não imaginavam que apareceria uma coisa chamada internet, que transformaria jornais, revistas, rádio e tevê em produtos tão obsoletos quanto o bigode do Barão do Rio Branco.

A vida às vezes é mais justa do que parece.