Por que o futuro político de Alckmin depende das prévias do PSDB no domingo. Por José Cássio

Atualizado em 26 de fevereiro de 2016 às 19:39
Eles
Eles

 

Se considerarmos o processo de judicialização da política, que desfavorece vergonhosamente o PT, ou a queda dos preços das commodities, que influencia o comportamento da economia, ou ainda as recorrentes denúncias de corrupção contra Dilma, conseguimos entender o que leva o governador Geraldo Alckmin a apostar seu futuro político nas prévias do PSDB paulistano deste domingo, 28, quando os filiados vão às urnas escolher quem será o candidato do partido nas eleições municipais de outubro.

O novato João Doria, escolhido por Alckmin para enfrentar Ricardo Tripoli e Andrea Matarazzo, faz esforço para se vender como o Michael Bloomberg brasileiro, mas sua realidade está mais para Maurício Macri, empresário que derrotou o candidato de Cristina Kirchner mesmo com os altos índices de aprovação popular da ex-presidente argentina.

Na sua aposta para chegar ao Palácio do Planalto, Alckmin acredita mesmo que os eleitores latino-americanos estão cansados de partidos que estão há muito tempo no poder – e principalmente torcem por  mudanças.

Mais: acompanha com atenção a crise dos governos de esquerda nos países da região e, alimentando a crença de que o Brasil é a ‘bola da vez’, foi buscar o que considera “novo” no seio do que o capitalismo brasileiro tem de mais vistoso: o Grupo Lide, que reúne 1 800 empresas responsáveis por 51% do PIB nacional e tem como presidente Luiz Fernando Furlan, ex-ministro de Lula.

Doria vestiu bem o figurino de escolhido da iniciativa privada para colocar a casa em ordem na vida pública. Ao contrário do que muitos acreditavam, está se saindo melhor do que a encomenda. 

Da experiência como publicitário e mestre de cerimônia de grandes eventos trouxe para a pré-campanha o modelo americanizado de se relacionar com os eleitores: jingle no estilo chiclete, frases e gestos de efeito com a clara intenção de mexer com  o imaginário coletivo, forte apelo emocional e, obvio, ataques agressivos a todo e qualquer sinal de esquerdismo, especialmente quando associado ao PT. 

“A cor da nossa bandeira é verde-amarela, não a vermelha do comunismo”, diz no final dos seus encontros com militantes, segurando a “amarelinha” enquanto põe todo mundo para cantar o hino nacional.

Os tucanos estão divididos em relação à tática do governador de encarar o sucesso de Doria como o passo inicial na sua jornada para chegar à Presidência. 

“Agora não é hora de pensar na eleição presidencial”, reclama o senador Aloysio Nunes Ferreira, que defende a candidatura de Andrea Matarazzo. “Antes de 2018, temos de pensar no compromisso do nosso partido com os 12 milhões de paulistanos”.

O deputado estadual e ex-presidente da Assembléia Legislativa, Barros Munhoz, tem opinião contrária. “O nosso grande comandante chama-se Geraldo Alckmin”, discursa Munhoz. “E São Paulo, por tudo que representa no país, é a plataforma ideal para o nosso objetivo que é a conquista da Presidência da República”. 

Nos diretórios as opiniões dos filiados também se dividem e as definições mais usadas são risco e coragem: risco porque se João Doria perder as prévias Alckmin pode pegar o boné e voltar para Pindamonhangaba. E coragem porque todo aquele que deseja voar alto não pode fugir de desafios.

O fato concreto é que, independentemente da estratégia estar certa ou não, Alckmin fez aquilo que se espera de alguém que está apoiando uma candidatura: arregaçou as mangas e foi à luta amassar barro, como ele mesmo gosta de dizer.

Aproveitando seu prestígio pessoal e principalmente a caneta de governador, saiu pedindo voto, ou “colocando o povo para trabalhar” como se diz no partido.

Andrea Matarazzo, por sua vez, está pagando o preço por contar com apoios que se dão na forma não de contato pessoal com militantes, mas sim de entrevistas a repórteres para alimentar notinhas nos jornais: a cara feia de má vontade de Serra no encontro do Circolo Italiano na segunda, 25, só foi desfeita quando entrou no carro na volta pra casa.

Chegou com uma hora de atraso, torceu para que ninguém chegasse perto dele, falou antes de todo mundo alegando compromisso, pediu apoio tímido para o seu candidato e se mandou.

De Fernando Henrique não dá para esperar grandes coisas: na condição de ex-presidente aos 84 anos, sem qualquer relacionamento com a grande massa de filiados, está mais preocupado é com o noticiário sobre o escândalo que a sua ex-amante resolveu jogar no ventilador. Alberto Goldman?

Forma com Serra a dupla mais antipática jamais vista na história política deste país. Sobrou então Aloysio Nunes e meia dúzia de vereadores que dizem apoiar Andrea – da mesma forma que diziam apoiar Alckmin em 2008, quando ele chegou em terceiro lugar na eleição municipal vencida por Gilberto Kassab.

Ainda assim, se o resultado não surpreender, Andrea deve ter uma nova chance em 20 de março no segundo turno com João Doria. Isso porque a eleição é neste domingo – tivesse mais uma semana e a tendência seria dele ser atropelado por Tripoli, o “cavalo paraguaio” que está dando trabalho na reta de chegada.