Por que o Minhocão deve ser destruído e não revitalizado

Atualizado em 22 de agosto de 2014 às 9:46
Miragem
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O prefeito Fernando Haddad sancionou na última semana de julho o novo Plano Diretor da cidade de São Paulo. Um dos artigos prevê a desativação completa do Elevado Costa e Silva, o famoso Minhocão. Com isso, retomamos a antiga discussão sobre o que fazer com o monstrengo entregue por Paulo Maluf em 1971, no aniversário de 417 anos da capital. A hipótese mais provável, defendida por alguns modernos e abraçada com fervor por meia dúzia de vereadores, é a de transformá-lo em um parque suspenso. Mas será mesmo que essa é a melhor opção?

Maluf idealizou o Minhocão com o objetivo de desafogar o trânsito na região central. Especialistas, no entanto, consideram que a obra pouco contribui para essa finalidade, uma vez que na época em que foi entregue a Marginal não havia nem sido concluída e sua capacidade para carros é pequena. Além disso, é certo que ele desvalorizou não apenas os edifícios que o cercam, como toda a região, e tornou inóspitas as vias de baixo.

Os moradores dos prédios que cercam o elevado foram condenados a conviver com barulho e poluição em níveis insuportáveis. Tiveram seus imóveis incrivelmente desvalorizados e ainda assistiram a proliferação da prostituição, do tráfico e consumo de drogas além dos intermináveis assaltos. Se não bastasse, o térreo e o primeiro andar praticamente não recebem a luz do sol. Comerciantes e moradores também sofrem há 40 anos com a umidade e as goteiras provenientes do viaduto. Um cenário lúgubre que não tem perspectiva de mudança com a transformação do local em parque suspenso.

Caso se decida pelo parque, a vida embaixo do elevado continuará caótica. A vida acima da via também continuará causando dor de cabeça aos moradores. Afinal, como defende o vereador Nabil Bonduki (PT), relator do Plano Diretor e um dos signatários da iniciativa de criação do parque na Câmara Municipal, prevê-se, entre outras coisas, que o elevado seja palco de eventos como o festival do Baixo Centro e o carnaval – ou seja, os moradores não estarão livres do barulho.

A instalação do parque é uma ideia um pouco inspirada no High Line, jardim suspenso implantado em uma antiga linha ferroviária em Nova York. O que não se fala por aqui é que o contexto da High Line é muito diferente. O espaço americano está localizado em uma área industrial, sem a proximidade com edifícios residenciais e serviu para vitalizar uma área afastada e abandonada. Em São Paulo, a linha localiza-se no coração da cidade, área de intensa circulação.

A demanda por um espaço de lazer é outro argumento de quem é contrário a demolição. Porém, a retirada da via não encerra essa possibilidade, uma vez que a praça Marechal Deodoro seria revitalizada, bem como o Parque Augusta poderia ser reformado – isso, sem considerar que o desaparecimento do elevado destravaria por completo a intransponível barreira de circulação entre a região central e bairros importantes como Vila Buarque, Santa Cecília, Pacaembu, Perdizes, entre outros.

Implodir o elevado Costa e Silva é uma maneira eficaz e, segundo especialistas, não muito cara, de devolver a vivacidade às pessoas que moram e circulam na região. Manter uma aberração daquelas em pé, com a fútil e marqueteira argumentação de criar um novo espaço de lazer, considerando mais o impacto que a iniciativa pode ter nos meios de comunicação, e menos os benefícios para a cidade, é uma medida egoísta e inapropriada. Só com o seu desaparecimento por completo, São Paulo se libertará do fantasma que assombra a região central há mais de 40 anos.