Por que o Uruguai é o país do ano para a ‘Economist’ — e por que você deve ir para lá na primeira chance

Atualizado em 24 de outubro de 2014 às 16:15

maconha uruguai charge

 

O Uruguai foi eleito país do ano pela Economist. É a primeira vez que a revista faz uma escolha desse tipo. Por quê?

Bem, primeiro porque listas e prêmios, quando bem feitos, são sempre atraentes. Depois, e principalmente, porque o Uruguai merece um troféu.

Os editores explicam que consideraram o Sudão do Sul, a Irlanda, a Estônia e a Turquia, entre outros, pelo desempenho econômico. Mas se preocuparam com o fato de um método econométrico reduzir um triunfo. Há mais coisas que devem ser consideradas.

E o Uruguai é mais do que isso. Diz a Economist:

As realizações que mais merecem louvor, pensamos, são reformas pioneiras que não se limitam a melhorar uma única nação, mas que, se emuladas, podem beneficiar o mundo. O casamento gay é uma política que ultrapassa fronteiras, aumentando a soma global de felicidade humana sem nenhum custo financeiro. 

Vários países implementaram essa medida em 2013, incluindo o Uruguai, que também, de maneira pioneira, aprovou uma lei para legalizar e regulamentar a produção, venda e consumo de cannabis. 

Esta é uma mudança tão obviamente sensata, dificultando a vida dos bandidos e permitindo que as autoridades se concentrem em crimes mais graves, que nenhum outro país fez isso. Se os outros seguirem o exemplo, e outros narcóticos forem incluídos, o dano que tais drogas causam no mundo seria drasticamente reduzido.

Melhor ainda, o homem no topo, o presidente José Mujica, é admiravelmente modesto. Com franqueza incomum para um político, ele se referiu à nova lei como uma experiência. Mora em uma casa humilde, vai para o trabalho dirigindo um Volkswagen e voa de classe econômica. Modesto e ousado, liberal e divertido, o Uruguai é o nosso país do ano. ¡Felicitaciones!

Pepe Mujica simboliza esse momento. Recusou-se a viver no palácio presidencial e doa 90% de seu salário para a caridade. Foi criticado pela aprovação da lei da marijuana. Um dos críticos mais duros, Raymond Yans, presidente da Junta Internacional de Entorpecentes da ONU, disse que ela estava violando normas internacionais e que a reforma passou sem consulta às Nações Unidas.

Mujica, com seu tipo de dono de mercado de secos e molhados do interior de Minas Gerais, bateu na medalhinha de Yans: “Diga a esse velho careta para parar de mentir. Qualquer um na rua pode me encontrar. Que venha ao Uruguai e me encontre quando quiser… Ele pensa que, por estar numa posição internacional, pode falar o que quiser”.

Bravo. O Uruguai é cool, mas não à maneira de Nova York, Londres, Miami, Berlim etc. Não pela ostentação do dinheiro, pela vida noturna, pelos restaurantes, pelas compras, pelos prédios. É pelo espírito e pela civilidade. Por parecer um laboratório do que seria um país bom para se viver.

O número de brasileiros que vai para lá cresceu 13%  de 2011 para 2012. Segundo o ministério do turismo uruguaio, vai aumentar. Desbancou a França como o terceiro país mais procurado pelo viajante do Brasil. O turismo relacionado ao consumo de maconha preocupa. O governo estabeleceu que apenas cidadãos com registro de residência terão direito aos 40 gramas por mês da lei. Isso, evidentemente, não deterá ninguém.

Há dois anos, estive em Punta del Este. Para além das praias bonitas de areia branca e fofa, do bairro bonito onde se concentram bares e restaurantes, do certinho com cara de Guarujá civilizado e da jogatina nos cassinos, onde meu sobrinho Kid Creole fez a festa, o que realmente impressionava era a tranquilidade absoluta com que grupos de jovens pediam carona na beira da estrada. Era como se fosse uma grande excursão em que todos se conheciam. O último crime — um furto — ocorrido ali havia sido em 2008.

Que a aldeia gaulesa ao sul do continente continue o país do ano por muito tempo. Mas sem pressa. “Pelo caminho mais longo a viagem é mais curta”, gosta de dizer Mujica.