Por que os estudantes de São Paulo estão voltando a ocupar as escolas. Por Mauro Donato

Atualizado em 29 de abril de 2016 às 13:55

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Os estudantes da rede estadual de ensino e escolas técnicas e profissionalizantes (ETECs) e faculdades (FATECs) ocuparam na tarde de ontem o Centro Paula Souza que é o coração administrativo de todas ETECs e FATECs.

Após longa marcha que partiu do MASP e passou pela Secretaria de Educação, os alunos chegaram ao Paula Souza na esperança de falar com a superintendente Laura Laganá. Encontraram portões fechados, segurança particular e a Polícia Militar.

Deu-se mais uma vez o conflito entre horizontalidade e a hierarquia verticalizada. Os alunos dão prioridade para o diálogo, o cara a cara, enquanto autoridades solicitam que os contatos sejam realizados via email, cartas, manifestos ou, quando muito, dispõem-se a receber comissões com ‘lideranças’. Os jovens não elegem uma ‘liderança’. Decidem tudo em assembléias, ninguém está acima de ninguém.

A superintendente e demais diretores que descessem de suas salas e viessem até o saguão onde estavam os estudantes. Nada feito. Retrato claro de quem deseja e quem não deseja o diálogo. Já na entrada alunos e imprensa foram borrifados com spray de pimenta pela PM. Inclusive dentro do saguão. Qual a necessidade disso?

Ocupar é a medida extrema na forma de pressionar, mas é o estágio atual das políticas de educação que pede essa radicalização. Para os estudantes, é evidente uma política de estado de fragilização no ensino público e desejam a ruptura desse quadro. Os cortes de investimento e deterioração do ensino, infelizmente, estão em todos os níveis (federal, estadual e municipal) e a privatização empurrada a fórceps. Estudantes rejeitam esse cenário, querem melhorias, querem debate, querem participação. Sabem que isso é um direito constitucional e lutam por ele. Alguém ainda não entendeu?

Como se não bastasse, os alunos paulistas sofrem ainda com dois fatos gravíssimos. Primeiro: o fechamento silencioso de ciclos, turnos e salas de aula, algo que para professores e alunos trata-se de uma reorganização escolar praticada na marra. Aliás, não só para eles. Já está tão escancarada a situação, que uma juíza “desconfiou” que a suspensão da reorganização escolar não está sendo cumprida por Geraldo Alckmin e deu um prazo de dez dias para receber dados detalhados.

“Há notícias gravíssimas trazidas pelos autores da ação, no sentido de que a liminar proferida nesta Ação Civil Pública, que vedou a realização da reorganização escolar, estaria sendo descumprida, uma vez que a Secretaria de Educação estaria fechando salas de aula em todo o Estado e, assim, realizando uma reorganização gradual e disfarçada (…) A fim de esclarecer a questão, bem como averiguar em que medida estes remanejamentos estão sendo feitos, determino à requerida que, no prazo de 10 dias, traga aos autos relatório completo, em forma de tabela, indicando todas as salas de aula fechadas neste ano de em todo o Estado de São Paulo, indicando a escola, a série respectiva, bem como o motivo do fechamento de cada uma delas. Deverá, ainda, em outra tabela, informar o número total de alunos remanejados em 2016, as escolas para as quais foram realocados, e o número de alunos nas salas de aulas destas escolas antes do recebimento destes alunos remanejados, e depois do recebimento destes, a fim de se aferir a procedência do argumento da requerida, no sentido de que as transferências estariam sendo realizadas em razão da redução do número de estudantes na rede estadual de ensino”, diz a juíza na ação.

Segundo crime: a falta de merenda escolar, o escândalo de propinas que envolve o tema e a absoluta morosidade na solução e punição dos envolvidos com a máfia que tira comida da boca de crianças. A Assembléia Legislatica, presidida por Fernando Capez (um dos denunciados), vem esvaziando as sessões sistematicamente de modo a dificultar a instalação de uma CPI sobre o caso.

Por todo esse descalabro é que estudantes tomam medidas como ocupar as unidades de ensino. Propõem-se a passar dias seguidos em estruturas que pouco ou nada têm de confortável. A noite foi fria, gelada no Centro Paula Souza. Mas os estudantes não demonstram intenção nenhuma em abandonar a luta. Alguém discorda que estão com a razão?

 

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