Por que Solange Couto é a única atriz negra famosa a protestar contra os papeis de sempre? Por Sacramento

Atualizado em 30 de novembro de 2015 às 8:38

solange couto

 

Em 34 anos de carreira, a atriz Solange Couto interpretou 25 empregadas domésticas ou escravas, cinco dançarinas e apenas sete personagens fora dos estereótipos reservados às negras. O balanço da atriz, atualmente no elenco de “Malhação”, da Globo, faz parte do projeto “Senti Na Pele”,  onde pessoas negras relatam situações em que sofreram racismo.

Solange, por enquanto, foi a única atriz famosa a participar da campanha, mas o relato que ela fez resume os espaços reservados a artistas negros na TV, no cinema e na publicidade brasileira.

Embora a situação para o ator negro esteja mais confortável que há 30 anos, quando Solange estreou na TV, uma representatividade que reflita a composição étnica do país está longe de acontecer.

A chave para mudar este cenário passa pelo aumento de diretores, roteiristas e produtores negros atuando nas grandes empresas do setor. De nada adianta existirem atores e atrizes talentosos dentro das mais diversas características étnicas e físicas se os profissionais que podem decidir pelas suas contratações estão dominados pela miopia eurocêntrica.

Falta, por aqui, uma figura como a de Shonda Rhimes, roteirista e produtora responsável por séries de sucesso como Grey’s Anatomy, Scandal e How To Get Away With Murder, trabalho que faz de Viola Davis a primeira negra a ganhar um prêmio Emmy de melhor atriz.

Mesmo à frente de séries onde mulheres negras protagonizam personagens poderosas e casais gays trocam carícias com naturalidade, Rhimes nega que esteja promovendo a diversidade na indústria cultural. O que faz, segundo ela, é “normalizar a TV”, fazendo-a se parecer com o mundo real.

“Eu detesto a palavra diversidade. Ela sugere … como se fosse algo especial, ou raro. (…) Mulheres, negros e LGBT somam muito mais que 50% da população. Isso significa que eles não são qualquer coisa”, disse Rhimes em um baile promovido por uma entidade de defesa dos direitos humanos.

Com mais de 53% da população brasileira se identificando como negra, não é preciso gastar horas diante da TV para perceber como seus programas estão desconectados da realidade.

Há sinais de mudanças, como presença da jornalista Maju Coutinho no Jornal Nacional e o sucesso do casal Lázaro Ramos e Taís Araújo comprovam. Mas tudo seria mais rápido se por aqui houvesse mais gente alinhada com o pensamento de Shonda Rhimes.

Gente que não mandaria mensagem em busca de atores com a observação de que é difícil encontrar um negro bonito, como uma agência de seleção de elenco fez recentemente ao procurar atores para uma série da Netflix.