Toffoli se aliou a Gilmar para derrubar Dilma?

Atualizado em 24 de novembro de 2014 às 16:23
Teoria conspiratória?
Teoria conspiratória?

Só o Sombra sabe o que se passa no coração dos homens, dizia uma antiga história em quadrinhos.

Isto posto, fora o Sombra, ninguém tem condições de dizer o que se passa no coração de Dias Toffoli, do STF – exceto ele mesmo, naturalmente.

Essa questão ganhou vulto nas últimas semanas, depois que Toffoli foi colocado no  centro de uma alegada conspiração para derrubar Dilma no tapetão.

O maior propagador dessa tese é o jornalista Luiz Nassif, segundo quem Toffoli estaria aliado a Gilmar Mendes e a Sergio Moro, o responsável pela operação Lava Jato.

Respeito e admiro Nassif, em quem reconheço um pioneirismo no jornalismo digital alternativo à grande mídia, mas não consigo ver sentido nessa suposta conspiração.

Gilmar é Gilmar, um juiz que se guia por intensa raiva do PT, mas Toffoli parece ser de outra natureza.

Colunistas conservadores sempre o criticaram por conta de antigos laços com o PT, embora ele tenha tido mão pesada, como todo o STF no conjunto, no julgamento do Mensalão.

Toffoli, que além de pertencer ao Supremo é presidente do TSE, foi incluído no suposto complô por causa de sua atitude na questão das contas de Dilma.

O exame das contas estava entregue a um juiz do TSE que se aposentou. A substituição poderia ter sido acompanhada por Dilma, mas ela viajou para a Austrália para a reunião do G-20.

Toffoli não esperou que Dilma voltasse, e sorteou um novo relator para examinar as contas. Deu Gilmar, que como Toffoli acumula o Supremo e o TSE.

É verdade que foi um tremendo azar: Gilmar, é claro, fará tudo para enxergar problemas graves nas contas de Dilma.

Mas, concretamente, do que pode ser acusado Toffoli? Em essência, ele cumpriu sua obrigação no TSE. Apenas não esperou Dilma.

Mas por que haveria de esperar? Por motivações políticas? Um momento: ele está no TSE e no Supremo para fazer política ou para fazer — ou ao menos tentar fazer — justiça?

Para aceitar a tese da conspiração golpista, você tem que supor que o sorteio foi forjado, e aí o roteiro sugere muito mais ficção do que realidade.

É virtualmente impossível imaginar Toffoli e Gilmar juntos em qualquer coisa que fuja das atividades em comum que têm no Supremo.

Agora mesmo: Toffoli tem defendido vigorosamente o fim do financiamento privado das campanhas eleitorais, e Gilmar está do lado oposto.

Há meses Gilmar segura uma emenda que trata exatamente desse assunto.

De resto, a tese do golpe fraqueja também no seguinte. Gilmar é apenas um voto entre sete integrantes do TSE.

Ainda que ele crie problemas, faltariam mais três votos para reprovar as contas.

Não parece haver clima para golpe jurídico de nenhum tipo. Até porque o Supremo, por onde o processo teria forçosamente que passar, tem o comando sereno e equilibrado de Lewandowski, um juiz que nada tem da inconsequência perigosa de Joaquim Barbosa.

As especulações em torno de Toffoli parecem estar ligadas sobretudo à polarização que divide o país e pode criar fantasmas do que a qualquer outra coisa.

Só o Sombra sabe o que se passa no coração dos homens, repito.

Mas, dada esta ressalva, Toffoli não está  fazendo nada além de cumprir suas obrigações de presidente do TSE.