Por que tantos migrantes estão chegando à Europa

Atualizado em 20 de setembro de 2015 às 22:24
Migrantes na fronteira da Áustria
Migrantes na fronteira da Áustria

Publicado na DW.

 

A cada mês deste ano, novos recordes de migrantes são registrados na Europa. O governo da Alemanha estima que receberá aproximadamente 800 mil requerentes de asilo em 2015. A onda de migrantes vindos de regiões afetadas por conflitos, principalmente da Síria e do Iraque, abriu um complicado debate sobre a distribuição de refugiados, além de incitar a reintrodução de cercas e controles nas fronteiras da União Europeia (UE).

Segundo dados Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), há mais de 4 milhões de sírios fugindo da Síria atualmente. A maioria deles encontrou abrigo em países vizinhos. Aproximadamente 1,1 milhão de refugiados sírios estão no Líbano, país que possui uma população de apenas 4,4 milhões de habitantes. Cerca de 1,9 milhão estão na Turquia, enquanto Jordânia e Iraque receberam 600 mil e 250 mil sírios, respectivamente.

Ainda há estimativas de que aproximadamente 6,5 milhões de sírios estejam deslocados dentro do próprio país, buscando fugir do caos instaurado por uma guerra civil que eclodiu em 2011 e que foi agravada com o crescimento do poderio da organização islamista do “Estado Islâmico” (EI). No entanto, se as guerras civis, a invasão de militantes jihadistas e as perseguições étnicas já ocorrem há no mínimo quatro anos, por que somente agora tantas pessoas resolveram partir rumo à Europa?

Um dos motivos pode ser um boato espalhado em redes sociais de que a Alemanha iria enviar navios para buscar sírios diretamente no Líbano e na Turquia para trazê-los à Europa. Obviamente não passava de um boato. No entanto, há motivos mais sérios e fundamentados que explicam a enorme onda migratória, compilados pelo site alemão Spiegel Online:

Falta de perspectivas:

Este é o principal motivo pelo êxodo no Oriente Médio. Durante anos, a violência perdura na Síria e no Iraque. As vidas de muitas pessoas estão paradas, em inércia. Temendo tiroteios, elas não saem de suas casas, não vão trabalhar e deixaram de ir à universidade ou escola. Nas comunidades tudo fica mais cada vez mais caro e suprime as poupanças das famílias. A guerra piorou o dia a dia de muitos sírios, e não há um fim à vista.

Serviço militar:

Muitos jovens da Síria e do Iraque estão em fuga, porque não querem servir como “bucha de canhão”. Atualmente, o regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, está recrutando desesperadamente jovens para o Exército para cobrir as perdas de soldados nas batalhas. Mas também as milícias aumentaram a pressão. Nas regiões curdas da Síria, as Unidades de Proteção Popular (YPG), conehcidas por serem fortemente ligadas ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), acabaram de lançar o serviço militar obrigatório para os homens.

Avanço jihadista:

Na Síria, o “Estado Islâmico” (EI) está avançando na província de Homs, onde vivem muitos sírios pertencentes a minorias religiosas. Muitos deles perderam as esperanças de um futuro na Síria e preferem buscar novas perspectivas na Europa.

Efeito em cadeia:
Na terra natal, o clima é de desesperança. Nas redes sociais, as pessoas veem imagens felizes e relatos de amigos e parentes que migraram e já chegaram à Europa. Aqueles que ficaram para trás agora também depositam suas esperanças num futuro lar distante.

O efeito em cadeia funciona inclusive de forma internacional: os iraquianos notam como os sírios descobriram uma maneira de chegar à Europa Ocidental e vão atrás. Outros também enxergam uma boa oportunidade: jovens iranianos, afegãos, paquistaneses viajam até a Turquia e se juntam a tantos outros na perigosa travessia do Mar Mediterrâneo.

Verão:

No verão, as águas do Mediterrâneo estão mais tranquilas e, consequentemente, mais propensas para a travessia. Além disso, o prosseguimento da viagem através dos Bálcãs, onde os migrantes muitas vezes têm de dormir ao relento, é mais fácil e menos arriscado do que nos meses de inverno.

Atravessadores:

Algumas das etapas do caminho até a Europa só podem ser superadas com o apoio de traficantes de pessoas. As guerras no Iraque e na Síria, países com uma grande classe média, criaram uma enorme demanda e geraram um negócio extremamente lucrativo. Grandes organizações criminosas entraram no mercado de contrabando de migrantes e estão tornando-o cada vez mais “profissional”.

Nas redes sociais, os atravessadores oferecem uma grande gama de ofertas. E, de repente, todos podem ir à Europa, desde que tenham dinheiro suficiente. Além disso, os próprios traficantes impulsionam a demanda – com promoções, oferecendo uma viagem gratuita para quem recrutar outros quatro ou cinco passageiros, ou espalhando deliberadamente rumores para atrair mais pessoas.

Segundo o grupo investigativo ” The Migrants’ Files”, composto por jornalistas e especialistas em estatísticas e informática, aproximadamente 1,2 milhão de pessoas chegaram sem documentação à Europa nos últimos 15 anos. A soma paga à máfia de atravessadores ultrapassa os 16 bilhões de euros.

Um cartaz mostrado por refugiados revela o valor cobrado de Izmir, na Turquia, até a Alemanha: 2.400 dólares americanos.