Precisamos falar sobre Felipão

Atualizado em 9 de julho de 2014 às 10:52

felipão

 

Quatro gols em seis minutos no primeiro tempo. Nem o mais delirante torcedor, bêbado de cerveja morna da Baviera, apostaria no massacre da Alemanha (segundo o New York Times, uma pesquisa apontou que só 16% dos alemães achavam que seu país venceria; 29% apostavam no Brasil).

É o pior resultado da seleção brasileira na história. Há outros recordes que quebramos.

Sim, a responsabilidade tem de ser distribuída. Sim, Neymar fez uma falta enorme. Sim, a Alemanha jogou muito e mereceu. 

Mas precisamos falar de Felipão. Felipão assumiu a culpa. E assumiu corretamente.

Não só pela teimosia com pesos mortos como Fred, Paulinho e Hulk. Não apenas por não ter planos B, C, D. Não só pela imobilidade suicida depois do primeiro gol da Alemanha, e do segundo, e do terceiro…

Mas pela atmosfera de instabilidade emocional que ele trouxe — ou não conseguiu dissipar — sob o nome fantasia de “Família Scolari”. Uma equipe que entra para matar contra a Colômbia e apaga para ser sodomizada pela Alemanha. Uma novela mexicana em cada passeio de ônibus.

O clima de guerra com a Fifa, as teorias conspiratórias sobre compra de árbitros, o assessor de imprensa da CBF que dá um soco na cara de um atacante do Chile, o choro dos atletas, o estranho encontro com jornalistas para admitir descontrole, a tragédia grega, descomunal, pela perda de um craque.  

Desde 2002, essa é a seqüência de técnicos da seleção: Felipão, Parreira, Dunga, Mano, Felipão. Nem o PSDB consegue ser tão refratário à renovação.

O chocolate da Alemanha foi o coroamento de uma campanha mediana de um time que foi até onde merecia, nem um passo além, sob um comando altamente pilhado. Na coletiva após a partida, Felipão falou sobre seu legado. Que, no mundial de 2018, treze ou catorze daqueles homens que ele convocou estarão presentes. Pode ser. O mais importante, porém, é que ele esteja em casa. Com Fred.