Quando a morte de alguém nos esmaga, o sexo pode ser a única consolação. Por Fabio Hernandez

Atualizado em 6 de setembro de 2015 às 20:00

image

Você provavelmente já leu O Estrangeiro, do Albert Camus. Se não, pode lê-lo aqui. As primeiras linhas são reverenciadas. “Hoje morreu minha mãe. Ou talvez ontem, não sei bem.”

Uma passagem. Queria discutir uma passagem específica desse pequeno grande romance. O narrador é moralmente condenado, num tribunal, porque um dia depois da morte da mãe faz sexo com Marie. A condenação moral vai levar a outra bem mais drástica.

Camus disse que se O Estrangeiro tivesse que ser resumido numa linha seria mais ou menos assim: quem não chora na morte da mãe está frito.

Bem, o que eu queria colocar na mesa para debater: há algo de errado em fazer sexo um dia depois da morte da mãe? Visto filosoficamente, o sexo é uma celebração desesperada da vida, ou da possibilidade de vida. É uma resposta à morte, em certo sentido.

O que o narrador de Camus fez foi responder com vida à perplexidade nascida da morte da mãe. Ele estava dizendo: “Estou vivo, por incrível que pareça. E vou seguir adiante. Tenho que seguir. Não existe alternativa.”

Só que a justiça dos homens é hipócrita, não filosófica, e você sabe como termina o narrador.

Sexo é vida, não pecado, não indiferença. Quando a morte de alguém nos esmaga, pode ser a melhor forma de consolação e resignação.

Às vezes, a única.