Quando a música importava: os 50 anos da histórica primeira apresentação dos Beatles nos EUA

Atualizado em 10 de novembro de 2014 às 15:25
A chegada no JFK, em Nova York
A chegada no JFK, em Nova York

 

“Havia milhões de jovens no aeroporto, algo que ninguém esperava. Os jornalistas no vôo e o piloto disseram: ‘Diga aos rapazes que uma multidão está esperando por eles’. Nós pensamos, ‘Uau! Nós realmente chegamos lá.’”

Paul McCartney resumiu assim um dos acontecimentos mais marcantes na história da cultura popular moderna. Há 50 anos, os Beatles aterrissaram nos Estados Unidos para se apresentar no programa de Ed Sullivan, sucesso absoluto no país, o homem em cujo programa Elvis rebolara.

Sullivan tinha visto a loucura em torno da banda na Inglaterra e ficou impressionado. Entrou em contato com o empresário Brian Epstein. Combinaram três domingos por um cachê modesto, ao invés de um só por muito dinheiro. Epstein queria, acertadamente, visibilidade.

O rock nunca mais foi o mesmo. Os Beatles abriram as portas para a chamada invasão britânica. Na esteira deles vieram os Stones, Animals, Who etc.

A primeira noite teve uma audiência de 73 milhões de pessoas, recorde na época e até hoje um número estupidamente alto. Eles abriram o primeiro bloco com “All My Living” e fecharam com “She Loves You”. Voltariam para tocar “I Saw Her Standing There” e “I Want to Hold Your Hand” no encerramento.

As cenas de histeria coletivas das adolescentes na plateia estão entre os registros mais impressionantes da beatlemania. Ao invadir o mercado dos EUA, John, Paul George e Ringo levaram seu trabalho para o mundo. Foi também uma inversão: os americanos, inventores do rock, estavam apaixonados por uma versão britânica de sua criação.

Algo parecido seria possível hoje?

Não. Aquela foi a época áurea do álbum de vinil. Discos vendiam e eram a melhor maneira de você ouvir e se aproximar de seu ídolo. A relação com o LP ou o compacto era íntima e especial. Na era do MP3, em que você baixa um arquivo sem sair do sofá, tudo fica menos excitante. As imagens dos artistas não eram tão banalizadas. Não havia tanta dispersão. E as gravadoras ainda existiam e tinham poder.

O DJ Murray The K definiu assim o movimento no aeroporto JFK, em Nova York: “Você podia sentir que algo estava acontecendo… Parecia o início de um terremoto”. E era.

Os sobreviventes Paul e Ringo estão lançando uma caixa de CDs comemorativa e participaram de um show com vários nomes interpretando as canções do quarteto. Haverá outras homenagens. A máquina ainda gira.

Meio século mais tarde, um evento dessa magnitude não acontecerá mais — porque a música também perdeu importância.