Quanto mais avança o golpe de 2016, mais evidentes ficam suas semelhanças com o golpe de 1964. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 21 de maio de 2016 às 12:52
Usurpador
Usurpador

Quanto mais avança o golpe de 2016, mais evidentes ficam suas semelhanças com o golpe de 1964. A seqüência dos fatos, o Modus Operandi, a corja de aliados, o programa governamental implantado e as supressões dos direitos civis parecem obedecer ao mesmo perverso estratagema.

A marcha da família com Deus, o apoio equivocado da OAB, a condescendência do STF, o “combate ao comunismo”, o apoio declarado da grande mídia familiar e a consequente repressão aos opositores do regime de 64 possuem os seus fiéis equivalentes nessa nova empreitada à ruína democrática brasileira.

Em questão de dias após assumir interinamente a presidência da República, Michel Temer e sua equipe de notáveis denunciados provocaram um retrocesso de décadas nos avanços sociais conquistados com tanto esforço e mobilização.

Como a grande maioria do Congresso Nacional já estava aderente ao golpe, restou fechar ministérios “subversivos” como o da Cultura, o da Igualdade Racial e o das Mulheres, além, é claro, de exonerar todos aqueles que não estavam alinhados com a nova “ordem” estabelecida. Incluindo-se aí um humilde garçom sob a alcunha de “petista”.

Satisfeita a “família tradicional brasileira” e alojados os corruptos moralistas na máquina estatal, chega o momento da repressão aos direitos civis e da perseguição política a quem ousar pensar diferente.

Todos os contratos estatais firmados com mídias ou eventos que se neguem a rezar a cartilha golpista serão “revisados”. O encontro de blogueiros realizado em BH que contou com a presença da presidenta afastada, Dilma Roussef , foi a primeira vítima.

Os R$ 100 mil destinados a nível de patrocínio pela Caixa Econômica Federal para o encontro, foram imediatamente suspensos. À vista do que a CEF investe em propaganda na grande mídia, trata-se de uma esmola. Mas a repressão prossegue.

Bastou Dilma fazer uso das redes sociais para denunciar o golpe do qual está sendo vítima para os lacaios dos Marinhos e Civitas exercerem o serviço sujo para o qual são pagos.

Eliane Cantanhêde, numa espécie de inveja imbecilizante da ministra Rosa Weber, denunciou “crime de responsabilidade” por Dilma falar em “golpe”. Tudo agora virou crime de responsabilidade, exceto as pedaladas fiscais assinadas pelo vice golpista.

Antes disso, Reinaldo Azevedo, a besta desgovernada da Veja, afirmou que Dilma, ao expressar a sua opinião, “subverte a ordem democrática”. De novo: “subverte a ordem democrática”. Não é piada, mas não posso culpar os que rirem.

Porém, infinitamente mais absurdo foi o bloqueio inexplicável ao acesso ao Palácio da Alvorada. Por ordem do Gabinete de Segurança Institucional – GSI, qualquer pessoa que queira conversar com Dilma em sua residência oficial ou simplesmente ter acesso aos arredores do local como é comum aos turistas que visitam Brasília, terá agora que passar pelo crivo dos militares subordinados a Temer.

Eu mesmo fui barrado. Ao questionar ao oficial de plantão os motivos pelos quais não poderia seguir, tive que me contentar com a informação de que se tratava de uma medida constitucional prevista em lei e que até o presente momento o acesso não tinha previsão de ser liberado.

Os direitos de ir e vir e o de livre expressão de pensamento estão sendo sistematicamente cassados. Michel Temer, com a valiosa ajuda da grande mídia familiar, aos poucos está criando o seu próprio Ato Institucional número 1. Se o golpe não for barrado, um triste episódio de nossa história será repetido. Para a desgraça de todo o país.