Quanto tempo até os esqueletos dos deputados anti gays saírem do armário? Por Kiko Nogueira

Atualizado em 17 de maio de 2015 às 23:22
Deputado e pastor Sóstenes Cavalcante, da comissão do Estatuto da Família
Deputado e pastor Sóstenes Cavalcante, da comissão do Estatuto da Família

 

A bancada evangélica prepara a votação do Estatuto da Família. O pastor Sóstenes Cavalcante, do PSD do Rio, preside a comissão especial criada para apreciar o projeto de lei.

Sóstenes não é o autor do relatório final, mas deixa clara sua posição: é contrário à formação de famílias que não sejam encabeçadas por homem e mulher porque elas não estão previstas na Constituição.

“Qualquer coisa que não tenha essa base é inconstitucional”, disse o deputado ao site Congresso em Foco. Para ele, a união entre pessoas do mesmo sexo contraria o artigo 226.

Sóstenes é uma cria de Silas Malafaia, histérico que passa seu existência em redes sociais falando da comunidade LGBT. Nulidade completa, Sóstenes chegou a montar num burro durante a campanha para mostrar “suas origens pobres”. Criticou o Psol por expulsar o cabo Daciolo, crente e fã de Bolsonaro. Tentou uma vaga na Comissão de Direitos Humanos e Minorias.

Ele é apenas um entre dezenas de parlamentares dispostos a meter o bedelho do estado no que os brasileiros fazem na cama. Marco Feliciano quer levar ex-homossexuais amigos dele à Câmara para mostrar as maravilhas da cura gay.

De onde vem essa homofobia toda? O que explica a obsessão? Por que o incômodo com algo que não lhes diz respeito?

O New York Times deu um belo artigo sobre políticos e religiosos que faziam campanhas enfurecidas contra os direitos dos gays. Um deles era Ted Hagard, dono de uma igreja pentecostal que contratava os serviços regulares de um prostituto.

Uma teoria conhecida é a repressão da própria necessidade sexual, que se transforma em medo e raiva. Freud definiu esse processo como “formação reativa”, o conflito contra os símbolos externos de um sentimento que está sendo sufocado internamente.

Um estudo no Journal of Personality and Social Psychology, publicação mensal fundada em 1965, fornece dados científicos para comprovar empiricamente essa tese. Nos EUA e na Alemanha, 784 estudantes foram ouvidos numa pesquisa. Eles dividiram sua orientação sexual numa escala de 10 pontos, de gay a hétero.

Depois de uma série de testes, chegaram a um grupo de mais de 20% de participantes que davam sinais de sentir atração por pessoas do mesmo sexo, sem assumir. Havia uma “discrepância”, como chamaram os pesquisadores.

Os discrepantes eram aqueles mais inclinados a favor de medidas anti-gays e de, por exemplo, punições severas para criminosos se estes fossem homossexuais.

Os autores do artigo são Richard M. Ryan, professor da Universidade de Rochester, e William S. Ryan, da Universidade da Califórnia. “Nem todos aqueles que combatem gays sentem atração pelo mesmo sexo. Mas ao menos alguns do que se opõem à homossexualidade podem estar lutando contra partes deles mesmos, tendo sido vítimas de opressão e não aceitação. Os custos são altos, não apenas para os alvos de seus esforços mas para os perpetradores”, escrevem. “Nós devemos lembrar que todos os envolvidos merecem nossa compaixão”.

Não vai levar muito tempo até que um esqueleto de um desses nobres deputados saia do armário. E então ele dependerá da compaixão que nega a outros.