Quem é o PM que disparou várias vezes na manifestação de 7 de setembro

Atualizado em 2 de outubro de 2014 às 16:34

Ele teve sua moto derrubada e atirou para o chão com arma de fogo, ferindo um fotógrafo.

pm
T.A.S.C.

T.A.S.C. é tido como o policial que disparou diversos tiros de pistola na praça João Mendes, ocasionando o ferimento no fotógrafo Tércio Teixeira, da agência FuturaPress, no sábado (7).

Sua carteira de habilitação foi encontrada no local onde sua moto esteve deitada, derrubada por um pontapé de um manifestante.

Ainda que sozinho e podendo alegar legítima defesa, não havia razão para o uso de arma de fogo. Ter ficado isolado foi desatenção sua e havia um grupamento próximo pronto a socorrê-lo. Na esquina. Por que se desesperar?

O comportamento diz muito a respeito da falta de treinamento que nossos policiais (militares ou civis) recebem para situações de confronto. Assemelham-se aos adolescentes mascarados.

No 7 de setembro, em frente à Câmara Municipal de São Paulo, muitos guardas revidaram às pedradas também com pedradas. Partiram da frente do prédio aos gritos de “É guerra!”. Mas haveria muito mais. Na rua Santo Amaro, após perder manifestantes de vista, um comboio de viaturas subiu em alta velocidade por entre jornalistas, realizando manobras arrojadas. A especialidade do espanhol Fernando Alonso não é exatamente o forte dos pilotos da PM nem se pode dizer que uma Blazer da GM seja uma Ferrari F-1, e a intenção puramente exibicionista quase acaba mal (não fui atropelado por centímetros). O strike com sucesso foi deixado para depois, realizado na lateral da catedral da Sé. A PM atropelou um grupo que solicitava socorro justamente para outros atropelados.

O último combate do dia se deu na av. Paulista, onde a polícia acuou black blocs em frente a um bar cheio. Passaram-se longos minutos de batalha colocando em risco diversos inocentes (e muitos prejuízos ao dono do bar Puppy), até que uma luz baixasse num militar de maior patente e berrasse: “Parou!”. Em Brasília, o mesmo ocorreu, induzindo os manifestantes para dentro da rodoviária, e no Rio jogaram bombas de gás na direção das arquibancadas do desfile militar, repletas de mulheres e crianças.

A chegada da tropa de choque provocou aplausos e gritos de incentivo entre os que desejavam ver os manifestantes expulsos (alguns traziam faixas pedindo pela volta dos militares ao poder). Após sentirem na pele, nos olhos e no nariz os efeitos do gás, mudaram de opinião. Uma senhora gritou para os policiais: “Vocês não têm filhos não?”.

Ao longo desses três meses de protestos foram centenas de situações em que a falta de equilíbrio emocional ficou evidente. Garotos tiram do sério profissionais que deveriam ser altamente capacitados para não saírem do sério.

O deboche do capitão Bruno lançando gratuitamente spray de pimenta em Brasília mostrado em vídeo (“Porque eu quis. Pode ir lá e denunciar, tá bom? Capitão Bruno, BP Choque”), é apenas mais um. Não é guerra. Ou é?

A atitude reativa da polícia contribuiu em muito para o estágio ao qual os protestos chegaram. A cada manifestação, reprimem com violência descabida e muitas vezes desproporcional, o que traz mais revolta por parte dos manifestantes na oportunidade seguinte. Não chegava a uma dúzia o número de mascarados que acompanhavam as passeatas de junho. Menos de três meses depois o exército mascarado cresceu em proporção geométrica. A pauta, quando existe, passou a ser mero pretexto.  Tornou-se um ciclo vicioso que precisa ser interrompido com competência, planejamento e maturidade por quem exerce apenas e tão somente essa função: eliminar conflitos. E não alimentá-los.

Não cabe o argumento de que a polícia, por remunerar mal, só arregimente pessoas nas classes mais baixas da sociedade, de pouco estofo cultural e instrução precária sedimentada. No livro “Inteligência Emocional”, o psicólogo e PhD Daniel Goleman diz que não existe correlação entre esses dois mundos. A inteligência acadêmica nada tem a ver com a emocional. A polícia deveria possuir um departamento de RH de fazer inveja às empresas mais evoluídas nesse sentido.

Uma pesquisa na página de uma rede social do policial T.A.S.C. demonstra um perfil psicológico conturbado. Num post ilustrado com a foto de um radar de velocidade lê-se: “Atenção manifestante vândalo, se for destruir algo, que seja o radar”, ao qual ele comenta: “kkkkkk”. Dois outros comentários referem-se ao MC Daleste, assassinado recentemente: “Foi tarde, FDP. Bandido bom é Daleste morto” e “kkkk… rachei, tiro certeiro!!!”.

Durante o mês de junho, no auge das manifestações, o policial reproduziu uma reportagem da CNN a respeito dos protestos (“O que a imprensa brasileira se nega dizer para o povo, a CNN falou por ela”, grifou), realçando que o país vivencia um amplo colapso de infraestrutura, com problemas em transporte público, saúde e educação. Não eram só os 20 centavos. Sobretudo, o longo texto alardeava em seu final: “Não é uma rebelião adolescente.”

Como pode alguém engajar-se numa luta muito mais abrangente do que 20 centavos e ao mesmo tempo incitar a depredação de radares? T.A.S.C. parece ter visto algum sentido nas reivindicações. Mas fazer o trabalho dele, nem pensar.

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