Quando o debate político começa a girar em torno de caixas de cerveja e canoas de 4 000 reais, é porque chegamos à mais pavorosa miséria intelectual.
É o triunfo da migalha sobre a relevância.
E então você olha para o que Bernie Sanders colocou na agenda americana de discussões políticas e sente vontade de chorar.
Num país muito mais rico que o Brasil e muito menos desigual, Sanders forçou a sociedade a enfrentar suas verdadeiras feridas.
Que país pode funcionar decentemente, disse ele, quando a plutocracia toma de assalto a democracia?
Quando o big business toma conta do Congresso e da Casa Branca mediante doações multimilionárias para as campanhas? (Ou alguém acha que é um dinheiro dado de graça?)
Quando um pequeno punhado de privilegiados fica cada vez mais rico enquanto milhões de americanos perderam a casa e vivem nas ruas ou em amontados precários de cabanas?
Quando as pessoas não têm direito a um tratamento público de saúde decente, e os estudantes pobres não têm como pagar faculdades caras?
Ora, ora, ora.
São temas atualíssimos no Brasil. Melhor: velhíssimos. Vivemos uma situação de abjeta desigualdade há décadas, séculos.
E no entanto discutimos cerveja.
Esta é a contribuição da Polícia Federal e da mídia: debater cerveja.
Você vai ouvir o que políticos como FHC, assim chamado sociólogo, têm a dizer sobre o drama social brasileiro. E tudo se resume a uma palavra usada para enganar os ingênuos, os tolos, os analfabetos políticos: corrupção.
Não existe nada mais corrupto do que um sistema feito para beneficiar os ricos. E mesmo assim a palavra corrupção domina entrevistas, artigos e o que mais tiver a assinatura de pretensos pensadores políticos como FHC.
É uma indigência assombrosa.
Não há um vestígio de ideia fresca nas falas de Aécio. É o atraso do atraso. E no entanto ele não sai de jornais e revistas, seus amigos e cúmplices.
Sanders fala, apropriadamente, em promover uma revolução política que devolva o poder ao povo, às pessoas das ruas, e o retire dos bilionários.
É isso que o Brasil tem que fazer.
O primeiro passo, essencial, é pregar, pregar e ainda pregar. É o que Sanders, aos 74 anos, está fazendo.
A pregação força o debate e desperta muitos que estavam adormecidos, completamente descrentes da política e, mais que tudo, dos políticos.
Quem, no Brasil, poderia colocar uma nova agenda política em debate, com vigor e credibilidade?
Quem representa, como Sanders, uma ruptura com o status quo viciado e viciante?
Vejo apenas um nome.
Jean Wyllys.