RS é mais um estado que agride estudantes para privatizar o ensino. Por Mauro Donato

Atualizado em 15 de junho de 2016 às 23:07
Estudantes apanham da PM gaúcha
Estudantes apanham da PM gaúcha

 

Entre São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul, está difícil saber quem atua com maior truculência contra os estudantes que reivindicam um ensino público de qualidade.

Na tarde desta quarta-feira, o governo do Rio Grande do Sul tocou suas tropas compostas pela Polícia Militar, Brigada Militar e Batalhão de Operações Especiais em cima de alunos e ativistas que ocupavam o prédio da Secretaria da Fazenda do Estado.

Após um mês de ocupações em mais de 130 escolas gaúchas, os secundaristas rejeitaram um acordo anunciado pelo governador José Ivo Sartori (PMDB) para que as escolas fossem desocupadas a partir desta quarta-feira. O tal acordo foi firmado dentro da Assembléia Legislativa entre o governador e entidades estudantis cuja representatividade não é reconhecida pelo movimento autônomo dos alunos.

Ao tomarem conhecimento de que o acordo deixava de fora reivindicações que consideram essenciais como saneamento da precarização das estruturas e adequação da merenda escolar, os estudantes integrantes do Comitê das Escolas Independentes decidiram ocupar a Secretaria da Fazenda como forma de resistência. Logo depois a polícia chegou despejando seu arsenal de bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e distribuindo lambadas de cassetete em adolescentes, apoiadores, imprensa.

Integrantes dos Advogados Ativistas foram proibidos de entrarem no prédio. “Quarenta e três adolescentes foram encaminhados para o Departamento Estadual da Criança e do Adolescente, mesmo aqueles que estavam feridos. Já os 10 que eram maiores de idade foram encaminhados para o 3º DP e no momento encontram-se presos. Estamos aguardando sair o auto de prisão para tomar medidas as necessárias”, declararam os AAs por meio de nota no início da noite.

A brutalidade chocou a todos os presentes. Muitos se feriram e alguns chegaram a desmaiar. “Chegaram dois caminhões da polícia e nos deram um prazo de 7 minutos para deixarmos o local. Não teve diálogo nenhum. Daí invadiram, jogaram bombas. Tinham estudantes do Fundamental lá também. Essas crianças foram pisadas”, relatou Vitoria Leonora Viegas ao DCM. Ela tem 16 anos e é estudante da Escola Técnica Senador Ernesto Dornelles.

“Estou muito chateada com o adiamento da PL 44 para o ano que vem. Não queremos a suspensão, queremos a revogação dela”, completou Vitoria, esclarecendo qual a principal preocupação dos alunos.

O projeto de lei N° 44 é o que pretende ampliar a participação privada e de serviços terceirizados nas escolas estaduais. É o mesmo que vem causando revoltas estudantis também em Goiás e que tem provocado a desconfiança entre jovens do país inteiro. Para eles está muito claro que a precarização do ensino público tem por finalidade forçar a privatização e o PL 44 seria apenas o primeiro passo.

Simultaneamente à desocupação na base da força que ocorria em Porto Alegre, um protesto no Rio de Janeiro com alunos das escolas Visconde de Cairu, Central do Brasil e Antonio Houaiss foi reprimido com bombas, tiros, cassetadas. Cardápio completo. Saldo de mais alguns jovens feridos.

O que une os estados citados no início desta matéria, além do forte aparato repressor, é que todos estão sob gestão do PMDB ou PSDB. E nenhum deles tem sabido lidar com o fato de que os estudantes não aceitam mais o sucateamento do ensino público e têm ido às ruas, às Secretarias de Educação, às Assembléias Legislativas, bem como têm ocupado suas próprias escolas para exigir que os governos estaduais se posicionem contra as medidas que apontam para esse caminho.

É por isso que escolas estão sendo ocupadas em São Paulo, Rio, Ceará, etc. Atitudes de puro sadismo como impedir que água e alimentos entrem nas ocupações ou formar milícias para desmobilizar os jovens por meio da violência não têm surtido nenhum efeito. Se a luta para precarizar o ensino público continua, a resistência para salvá-lo também.