O Campeonato Brasileiro depois da Copa do Mundo

Atualizado em 14 de agosto de 2014 às 22:43
Um jogo sofrível
Um jogo sofrível

Ladies & Gentlemen:

De volta ao panorama desolador do Campeonato Brasileiro. Três coisas marcam a competição: times ruins, estádios vazios e gramados precários.

E uma coisa é certa: a seleção brasileira só será boa de novo quando o campeonato for bom.

Você pode ter um campeonato bom e uma seleção ruim, como é o caso nosso, inglês. Mas não dá para ter um campeonato ruim e uma seleção boa.

Vi, hoje, o Corinthians.

Ladies & Gentlemen: depois do intervalo da Copa do Mundo, com o tempo livre para treinos, e vários reforços, é este o futebol que o Corinthians tem a oferecer a sua torcida, que inclui a presença ilustre de Boss?

O pior: é um dos times mais bem colocados. Que dizer dos que estão para trás na tabela?

O problema – não só do Corinthians, mas dos clubes brasileiros e consequentemente da seleção – está, sobretudo, na cabeça.

Há uma mentalidade doentia que leva as equipes a se concentrar na destruição e não na criação. Jogadores que destroem têm a preferência sobre os que criam.

Scott com Boss
Scott com Boss

Imagino dois garotos de 13, 14 anos que vão fazer um teste num clube. Há lugar para apenas um.

O primeiro é um é criador e, como todos os de seu gênero, não marca e nem corre desenfreadamente. Um jovem candidato a Pirlo, coloquemos assim.

O outro é um destruidor. Tem força, estatura – e pouco talento. Alguém duvida que o escolhido será o destruidor? No time principal, afinal, há muito mais vagas para quem destrói.

Boss suspeita que isso tudo nasça da situação precária dos técnicos. Como em caso de duas ou três derrotas o treinador é demitido, a tendência é jogar para não perder.

E quem joga para não perder não ganha. Esta é uma das leis mais antigas e mais consolidadas do futebol.

Boss disse que depois que o Santos foi massacrado pelo Barcelona no Mundial de Clubes, algum tempo atrás, pareceu que os clubes tinham acordado para as virtudes do futebol ousado e hábil que, no passado, foi a marca do Brasil.

Mas, se houve qualquer intenção de reforma da mentalidade ultradefensiva, ela logo desapareceu. Não mudou nada. E não mudou porque as circunstâncias não mudaram: os técnicos sabem que, em caso de derrota, seu cargo corre risco.

Esse espírito acaba por chegar à seleção, como se viu na Copa do Mundo. A Alemanha foi muito mais Brasil que o próprio Brasil: toques, classe, talento, ímpeto de vencer.

Ladies & Gentlemen: ou vocês se reinventam ou deixarão de ser o País do Futebol.

Sincerely.

Scott

Tradução: Erika Kazumi Nakamura

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Aos 53 anos, o jornalista inglês Scott Moore passou toda a sua vida adulta amargurado com o jejum do Manchester City, seu amado time, na Premier League. Para piorar o ressentimento, ele ainda precisou assistir ao rival United conquistando 12 títulos neste período de seca. Revigorado com a vitória dos Blues nesta temporada, depois de 44 anos na fila, Scott voltou a acreditar no futebol e agora traz sua paixão às páginas do Diário.