Se Zezé di Camargo visse menos Jornal Nacional, talvez falasse menos bobagem. Por Sacramento

Atualizado em 12 de setembro de 2017 às 15:11

 

A participação do cantor e compositor Zezé de Camargo no canal da jornalista Leda Nagle no Youtube ilustra com precisão o pensamento político do brasileiro médio, aquele sujeito branco, do sexo masculino, heterossexual e autodenominado “pagador dos impostos”.

De bônus, dá pistas de onde esse homem, também conhecido como “cidadão de bem”, obtém as influências para o seu pensamento político.

Durante a entrevista, Zezé de Camargo disse que não houve ditadura militar no Brasil e sim um “militarismo vigiado” – sabe-se lá o que isso significa. “O Brasil nunca chegou a ser uma ditadura, daquela onde ou você está a favor ou você está morto”, disse o cantor.

Segundo ele, há ou houve ditadura em Cuba, na Venezuela, China, Argentina e Chile. No Brasil não, pois o regime militar de 1964, de acordo com Camargo, “não foi tão sangrento”.

Talvez ele conheça alguma escala baseada no número de mortos, desaparecidos e torturados para definir se um sistema é ditatorial ou não, mas não foi questionado a respeito disso pela Leda Nagle, que adotou uma posição mais aquiescente que confrontadora.

Em seguida, insinuou que seria uma boa ideia os militares voltarem ao poder para fazer uma “depuração” na política. “O Brasil precisaria passar hoje por uma depuração.

Se o Brasil até pensar em um militarismo para reorganizar a coisa, para doutrinar a coisa, entregar de novo, ‘limpamos essa corja, toma aqui o Brasil democrático de novo’, acho que o Brasil precisava passar por uma depuração dessa”, disse Camargo, que em 2014 fez campanha para Aécio Neves na disputa presidencial.

Antes de soltar esses disparates, o cantor deu pistas de onde ele se abastece de informações para tecer seus comentários políticos.

“Sou um inveterado e assíduo espectador de vocês (…). Eu sou alucinado por notícias, às vezes vejo a mesma notícia dez vezes”, disse a Leda Nagle, para depois revelar que assiste o Jornal Nacional e o canal Globo News.

No fim das contas, Zezé de Camargo é só mais um brasileiro típico, do tipo que se informa principalmente pela TV, se esquece dos canalhas que apoiou no passado e ainda assim se acha apto a emitir opiniões sobre a conjuntura política. Mesmo confundindo a Romênia do ditador Nicolae Ceaușescu com a Hungria…

Espectador da TV Globo, Zezé de Camargo e os demais “cidadãos de bem” defensores da intervenção das forças armadas na política brasileira têm na própria emissora um exemplo de conduta para adotar frente a determinados assuntos.

Quando instigados a discutir política, deveriam se lembrar da performance de Glória Pires no Oscar 2016 e dizer simplesmente “não sou capaz de opinar”. Seria uma verdadeira depuração na política.