Seis brasileiros fazem greve de fome para que milhões tenham direito à sobrevivência. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 13 de dezembro de 2017 às 11:58
O Cardeal Dom Sérgio, da CNBB, conversa com os manifestantes

Na obra monumental de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, um dos maiores expoentes de nossa literatura nos ensina que o que a vida quer de nós é coragem.

E se é verdade que coragem é o que a vida nos exige, não é menos verdade que só a quem realmente sabe o valor de viver, é dada a coragem para fazer o que precisa ser feito para que a vida seja plenamente vivida. 

Não por acaso, seis agricultores, sertanejos, nordestinos, estão há mais de 8 dias em greve de fome nas dependências do Congresso Nacional – ombro a ombro com os tribunais de justiça, um dos lugares mais injustos e hostis nesse país de ordinários. 

Pertencentes ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), a atitude extrema se dá em protesto contra a Reforma da Previdência e tudo o que ela representa para o futuro de gerações inteiras de brasileiros. 

Fruto de uma agenda econômica mesquinha, excludente e autoritária, a sanha impositiva a um “regime previdenciário” onde a morte por exaustão apresenta-se como alternativa ao descanso legal e legítimo dos trabalhadores, exige por parte de todos os que entendem a gravidade do assunto, a luta mais enfática em defesa da própria sobrevivência.

E é dessa forma, ao colocarem suas próprias vidas em risco pela salvaguarda de um país soberano, que nossos seis heróis estão buscando a atenção de todos e aumentando o número de ativistas Brasil afora.

Segundo Vani Souza – integrante do MPA que está atuando na comunicação – já foram registradas adesões de pessoas à greve de fome nos estados de SC, RS, ES, RO, BA, PI, PE, SE e AL.

Importunados em Brasília, os generais do golpe já não escondem o seu incômodo. Na tarde dessa terça (12), o Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi ao encontro dos manifestantes.

Confrontado pelo Frei Sérgio Görgen, um dos seis que resistem ao auto sacrifício, Maia disse ser a favor da reforma mas admitiu que ainda não tem a decisão se a colocará em pauta ainda esse ano. 

Dúvida essa, claro, imposta pelo esfacelamento da base aliada de Temer.

É nesse meio solo, entre o enfraquecimento da proposta e o fortalecimento das manifestações populares a seu favor, que um grupo de camponeses está fazendo dos seus corpos a armadura visceral contra um dos mais violentos ataques que esse arremedo de governo já infligiu contra a nação.

No que pese os já visíveis e preocupantes sinais de debilidade, seguem impávidos numa emocionante, valente e inspiradora demonstração de cidadania, força e atitude política tão escassas nesse vergonhoso vazio de mobilizações.

Nesse momento onde as mais diversas e terríveis forças se levantam contra a democracia brasileira, a lição que vem mais uma vez do campo é a de que medidas extremas se fazem necessárias.

Mais do que nunca é imprescindível lutar. As redes sociais já não se mostram suficientes frente ao avanço do fascismo. Do diálogo que restou possível, o fato é que tudo que nos sobrou foram décadas de retrocesso.

Resistir é preciso. E se preciso for, que nossos corpos sejam nossas armas, que o medo dê passagem à atitude, que a angústia recrie-se potência e que a dor faça-se razão.

Afinal, como nos ensinou Guimarães Rosa: a vida exige coragem.

Rodrigo Maia com os seis do MPA