Seis cantoras que estão quebrando tabus no cenário musical. Por Nathali Macedo

Atualizado em 19 de julho de 2016 às 15:56
A rapper Karol Conka
A rapper Karol Conka

O empoderamento feminino tem trilha sonora (como tudo na vida, convenhamos).

Vozes femininas têm ecoado nesta geração e mulheres têm desafiado o lugar de intérpretes: elas compõem, musicam, arranjam e criam símbolos artísticos emblemáticos e mais do que necessários neste momento de levante feminista.

Trouxemos a essência de seis dessas mulheres que estão usando o talento para quebrar tabus tabus na cena musical.

1. Elza Soares

A mulher do fim do mundo é o álbum do milênio: forte, cru e assustadoramente verdadeiro, é o mais feminista que essa geração conheceu.

As letras com engajamento político, social e racial não são de Elza – ler a ficha técnica do disco, aliás, é um golpe quase fatal: nomes masculinos em série. Maria da Vila Matilde, por exemplo, com o célebre “cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”, tem letra de Douglas Germano. Embora o álbum não tenha sido escrito, produzido e mixado por mulheres, a predominância masculina não retira a sua força.

Uma voz negra – que nunca foi tão negra quanto em A mulher do fim do mundo – cantando “A carne mais barata do mercado é a carne negra” é sensacional mesmo que apenas pela simbologia.

Elza expressa o sentimento de uma geração com o exato fervor de que precisamos, e isso significa, no mínimo, que a arte tem cumprido o seu papel.

2. Ava Rocha

Cantora, compositora e cineasta carioca, Ava é parte importante desta geração que podemos chamar “cantoras neotropicalistas”, mas se recusa a ser apenas fruto do movimento tropicalista ressignificado neste século.

Livra-se do estigma de ser apenas a filha de Glauber Rocha e nos apresenta um trabalho robusto, representativo e indiscutivelmente original (na arte, o conceito de originalidade é complicado, mas nós ainda precisamos dele): o álbum Ava Patrya Yndia Yracema não é nada menos que transcendental.

Clipes surrealistas, melodias fortes e a poesia de Ava, que é um mantra feminino:

“Mate você
Mesmo
Coma do seu morto
Desalinhe o corpo
Fique louco
Tome espaço do estado da policia da Nsa
Da mulher maravilha
E meta um grelo na geopolítica”

(Auto das Bacantes)

3. MC Carol

Contrariando o elitismo intelectual de quem afirma que “funk não é cultura”, MC Carol nunca precisou abaixar a cabeça para os padrões da chamada boa música brasileira.

Sua figura emblemática nos diz, em silêncio: aceitem a minha música como ela é. A música que traduz o sentimento de um grupo social sem arranjos estéticos engessados e sem embranquecimento – porque, francamente, o embranquecimento da música negra já não combina com esta geração.

MC Carol fala sobre drogas, machismo e padrões estéticos sem rimas e sem papas na língua.

É exatamente essa ousadia que me instiga nesta mulher que acaba de lançar uma granada no cenário musical: “Delação Premiada” fala de racismo institucionalizado, violência policial e genocídio do povo negro e favelado.

Se isso não é cultura…

4. Karol Conka

Karol Conka também vem representando os anseios desta nova geração de mulheres negras empoderadas. Mais do que uma cantora, Karol é uma persona: um símbolo claro e quase caricatural de tudo o que o empoderamento feminino e negro representa.

Com influências pop e letras que absorvem o vocabulário peculiar das minorias (mulheres, negros e LGBTs), Karol nos trás uma música também original, embora menos crua que a de MC Carol (mesmo porque ambas estão incluídas em contextos artísticos distintos).

5. Karina Buhr

Um dia, a Camila Márdila me disse que as músicas de Karina Buhr fizeram parte do processo de composição de sua personagem Jéssica em “Que horas ela volta?“. Eu decidi conferir mais de perto o trabalho dessa cantora que, na época, conhecia apenas superficialmente, e compreendi: Karina é, de fato, um poço de inspiração.

Assim como Ava, ela tem influências tropicalistas fortíssimas. Some isto a letras ricas e um sotaque que você ouve e fica com vontade de abraçar o nordeste inteiro.

Sua música é a compreensão do feminino tal qual ele tem se apresentado para esta geração: reinventado e ressignificado.

No momento em que finalmente descobrimos o nosso sagrado feminino sem os antolhos patriarcais, Karina está aqui para nos presentear com a trilha sonora:

“Hoje eu não quero falar de beleza
Ouvir você me chamar de princesa
Eu sou um monstro.”

(Eu sou um monstro – Karina Buhr)

6. Juçara Marçal

Jussara já passou por grupos como A Barca e Metá Metá, lançando, no primeiro semestre de 2014, seu primeiro álbum oficialmente solo: Encarnado, recebido com entusiasmo pelo público e especialmente pela crítica.

A música experimental de Marçal tem influências da MPB – e de grandes nomes como Tom Zé e Céu – mas não tentar enquadrá-la em qualquer estilo é musicalmente criminoso: Jussara Marçal é provavelmente diferente de tudo que você já ouviu.