“Serenidade”: com suas mensagens, a mulher de Aécio conferiu humanidade a um canalha. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 5 de julho de 2017 às 10:28
As mensagens de Letícia para Aécio

 

Vinícius de Moraes escreveu que a mulher foi feita para amar e perdoar.

Vinícius era um sujeito de seu tempo. Hoje não diria isso porque seria fatalmente apedrejado e esquartejado. Aquela mulher não existe mais e nem aquele homem (aliás, o poeta foi poupado de ver o que virou o Brasil).

Letícia Weber, a esposa à moda antiga de Aécio Neves, é responsável por conferir um traço de humanidade ao marido.

Numa sequencia de mensagens de WhatsApp, captada pelo fotógrafo Lula Marques, ela lhe deseja serenidade e boa sorte antes do discurso na volta patética ao Senado.

Aécio é o canalha que ajudou a atirar nossa democracia no pântano da instabilidade e da insegurança jurídica.

Um moralista sem moral que não aceitou a derrota nas urnas e instou milhares de analfabetos políticos corruptos a ir para as ruas latir contra a corrupção.

Um jagunço que mandou o primo — “um que a gente mata antes dele delatar” — buscar uma mala de dinheiro com um empresário ladrão.

Um coronel de perfume caro e banhado em Ipanema, cuja irmã, seu braço direito, calou jornalistas ao longo do reinado em Minas Gerais.

No entanto, Letícia o ama. Viu o desespero do marido, que passava noites em claro tomado uísque, chorando e sonhando com a prisão.

Ela poderia picar a mula diante da roubada em que se meteu. Ela e Marcela Temer, juntas num road movie nacional vagabundo, nossa versão meia boca de Thelma e Louise.

Casou com um presidenciável que hoje é um pária golpista com percentual negativo de intenção de voto.

Preferiu ficar ao lado de Aécio, enviando-lhe palavras de força e consolo em sua missão vergonhosa no Congresso. 

Letícia é a parte boa de Aécio Neves. Quando ela se mandar, não restará nada.