Sindicatos acreditaram no governo golpista e se deram mal. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 14 de julho de 2017 às 15:57

Para que a reforma trabalhista fosse aprovada no Senado sem alteração – se houvesse mudança, voltaria para a Câmara e demoraria para entrar em vigor –, os líderes do governo garantiram que o governo editaria medida provisória para:

Excluir a possibilidade de mulheres grávidas e as que estão amamentando de continuarem em trabalho de “insalubridade média”, ainda que com autorização médica;

Tornar mais claro o texto sobre jornada intermitente, para evitar brecha para abusos – a proposta aceita pelo líder do governo é proibir acordo individual entre patrão e empregado para estabelecer jornada de 12 horas por 36 de descaso. Tributasse dividendos de empresas de terceirização que pagam sobre o lucro presumido.

Tributar dividendos de empresas de terceirização que pagam sobre o lucro presumido.

Não acabar com o imposto sindical.

O acordo sobre esse último item – a manutenção do imposto sindical – começou a ser debatido muito antes do Senado. Não apenas entre parlamentares.

Na última greve convocada para protestar contra o arrocho colocado em curso por Temer, no dia 30 de junho, houve negociação entre sindicatos – principalmente os ligados à Força Sindical – e setores do governo.

Algumas entidades deixaram de participar da greve depois que receberam a promessa de que Michel Temer assinaria medida provisória para garantir a manutenção do imposto sindical.

Esta é uma das razões que explicam o fracasso da paralisação.

Temer agora está inviabilizando o acordo com a mão do gato, isto é, através de Rodrigo Maia.

Só assim pode ser entendida a manifestação de Rodrigo Maia no Twitter, na madrugada de quarta-feira, depois que o Senado aprovou a chamada reforma trabalhista.

“A Câmara não aceitará nenhuma mudança na lei. Qualquer MP não será reconhecida pela Casa”, escreveu ele.

Com a decisão de Maia, esse acordo foi inviabilizado. Os sindicatos acreditaram no governo e se deram mal.

A reforma afetará a capacidade de sua sobrevivência.

O fim desse imposto acaba com os sindicatos pelegos ou de carimbo, isto é, aqueles que existem só no papel. Isso é positivo.

Mas enfraquece também os sindicatos combativos, que perderão renda e, com isso, força de mobilização.

O maior efeito da reforma talvez seja esse.

Com sua manifestação radical – nenhum MP será sequer reconhecida –, Maia agrada os patronos da reforma trabalhista – pontos da lei foram redigidos por confederações patronais – e dá uma demonstração de como poderia ser um eventual governo seu.

Com essa disposição, não é exagero comparar um eventual governo Maia a um AI5, o golpe dentro do golpe, a radicalização das forças que derrubaram Dilma Rousseff.

Mas, mesmo que o governo não mude de mãos, a radicalização é um fato e Rodrigo Maia, na presidência da Câmara, cumpre bem o seu papel.