Sob o jugo de Temer a PF definha em praça pública. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 28 de junho de 2017 às 18:56
Sucateados

É triste quando trilhamos com tanta avidez um caminho que nos leva inevitavelmente ao crepúsculo do que um dia foi o nosso melhor momento.

Dessa maneira deve estar se sentindo hoje a Polícia Federal.

Uma das instituições mais valorizadas nos governos de Lula e Dilma, a PF, fortalecida e com a sua independência plenamente garantida, não mediu esforços para que restasse bem-sucedido o golpe de Estado que culminou com um delinquente moral e formalmente denunciado na presidência da República.

Como não lembrar do policial federal que utilizou uma caricatura de Dilma como mira para seus treinos de tiros? O que dizer do “japonês da federal” que levava ao delírio milhares de patos amarelos até ser obrigado a trabalhar com a mesma tornozeleira eletrônica que adorava ver petistas utilizarem?

E quanto aos ilustres delegados que buscam incansavelmente o “timing” ideal para prender o Lula?

Esses são apenas alguns exemplos do Estado policialesco que se transformou o Brasil através da sanha golpista que visava destituir do poder não só uma presidenta honesta, mas todo o projeto de poder vitorioso nas urnas. 

É indissociável a vergonhosa participação e colaboração da Polícia Federal com os abusos e ilegalidades que até hoje ainda são cometidos em nome do que um dia muitos incautos acreditavam ser a luta contra a corrupção e pela moralização da política brasileira. 

Pois bem! Deflagrado o golpe, destituída a presidenta Dilma Rousseff e posto em seu lugar a intragável figura de um corrupto e corruptor no mais alto posto da República, o resultado para a Polícia Federal, outrora tão útil à causa, é simplesmente desolador.

Como num passe de mágica, a alta cúpula da PF viu o paraíso institucional em que vivia na época em que suas vítimas de hoje comandavam o executivo nacional e, claro, o ministério da Justiça, se transformar num verdadeiro vale de lágrimas.

Numa velocidade impressionante o orçamento destinado à Polícia Federal vem minguando tragicamente.

Dia sim, outro também, o comando da PF é ameaçado de ser trocado na desesperada tentativa de estancar a Lava Jato num “grande acordo nacional”. As perícias, tão elogiadas quando incriminavam alguém do PT, hoje são desacreditadas pelo próprio presidente de ocasião.

A recente suspensão da emissão dos passaportes é apenas a fratura mais exposta na Polícia Federal, mas o dano em curso à instituição é infinitamente maior.

Segundo a Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF) a suspensão das emissões de passaportes é fruto do “visível desmonte sofrido pela Polícia Federal”.

Ainda segundo a nota, a PF vem sofrendo com a “falta de autonomia da instituição e do notório encolhimento imposto à PF nos últimos anos”. Mais precisamente a partir de quando Temer assumiu ainda provisoriamente a presidência.

A ladainha continua afirmando que falta recursos até para “os contratos de manutenção dos veículos usados pelos agentes, reformas de prédios e abertura de novos concursos públicos”.

A situação é tão degradante que até o procurador da República, Carlos Fernando dos Santos Lima, integrante da força tarefa da Lava Jato e mais um a se lamuriar nas redes sociais pelo desastre que ajudou a instalar no país, também reclamou publicamente do governo Temer e de seu claro propósito de sufocar a PF.

No frigir dos ovos, a então toda poderosa Polícia Federal hoje agoniza em praça pública sem recursos sequer para emitir um documento tão vital para a liberdade de ir e vir dos cidadãos desse país.

No ritmo de sucateamento a que está submetida, simplesmente não há o que se esperar de novas operações realmente importantes para a soberania nacional num território onde até deputados federais (e sabe-se lá que autoridades mais) se sentem tão tranquilos para traficar toneladas de cocaína livremente Brasil afora.

O que hoje a nação pode afirmar categoricamente à Polícia Federal e a muitos outros agentes do golpe que levou à bancarrota a economia nacional, é que é preciso muito cuidado com o que se deseja, pois, como diz o ditado, ele pode se tornar realidade.