Suspeita de fraude, licitação da linha 5 do metrô de SP já tem vencedor: a CCR. Por Mauro Donato

Atualizado em 11 de janeiro de 2018 às 14:20
Alckmin no rush

O Sindicato dos Metroviários de São Paulo convocou a imprensa na manhã desta quinta-feira para apontar, previamente, quem será o vencedor da licitação de concessão para operar as linhas 5 e 17 do Metrô paulista.

O envelope será aberto no próximo dia 19.

And the winner will be… A CCR (Grupo Camargo Correa), que já administra a outra linha privatizada, a 4 Amarela.

O Sindicato questiona o processo licitatório e entrou com um pedido de suspensão na Justiça. A liminar ainda não saiu.

E o que leva os metroviários a afirmarem – com 99,99% de certeza segundo eles – que a CCR levará mais esse pacote? Além de ser a única a apresentar os estudos técnicos, os critérios estabelecidos, por exemplo, foram feitos sob medida para ela.

Dados compatíveis com o atendimento já feito na linha 4 e também exigências com experiência com o modal Monotrilho (a CCR tem o único e minúsculo trecho existente em São Paulo e também é a responsável pelo monotrilho na Bahia).

Resumindo: o contrato da linha 4, operada pela CCR, é usado como base para a formulação do edital. Algo como a seleção brasileira de futebol criar uma exigência para que apenas times que participaram de todas as Copas possam competir na próxima edição.

Independentemente das irregularidades que constam no edital e que repetem o modelo viciado das privatizações tucanas (a CCR, por exemplo, venceu a linha 4 nas duas pontas: ganhou para fazer as obras e também para administrar a operação), os metroviários pretendem reforçar sua contrariedade.

Irão fazer uma greve de 24 horas no próximo dia 18 e no dia seguinte irão protestar em frente à Bolsa de Valores, quando sairá o resultado da licitação que eles garantem já saber qual será.

“O histórico de privatização do Metrô é tenebroso. É sempre um negócio de pai para filho. O lance inicial previsto no leilão é de R$ 189,6 milhões. Só o sistema da Siemens custou R$ 175 milhões aos cofres públicos. No todo, o governo já colocou R$ 5 bi em obras, trens etc entre 2014 e 2017. E a iniciativa privada entra apenas para administrar e lucrar”, disse Celso Borba, presidente da Fenametro (Fed. Nacional dos Metroviários).

Para as empresas que ‘vencem’ as licitações de fato não há risco de prejuízo. O edital prevê a remuneração para um volume mínimo de passageiros e subsidia o bilhete. Antes mesmo do aumento atual da tarifa, quando a passagem custava R$ 3,80 , a CCR já recebia R$ 4,03 por cada passageiro transportado.

“Por que o governo tem que dar esse valor a mais? Eles não são uma empresa privada? O Metrô estatal não é ajudado por ninguém e sobrevive. A tarifa de R$ 3,80 é suficiente, supre os custos do Metrô de São Paulo. Não estamos no prejuízo”, falou Wagner Falardo, Coordenador Geral do Sindicato ao DCM.

A denúncia dos Metroviários ocorre um dias depois do leilão do trecho Norte do Rodoanel que foi arrematado pelo dobro do lance inicial. O governo paulista havia estipulado R$ 462,3 milhões como outorga minima. O martelo bateu em R$ 883 milhões, 90,97% de ágio.

Além do vencedor (a Ecorodovias, que já tem a concessão para administrar a Anchieta-Imigrantes e a Ayrton Senna-Carvalho Pinto), só havia mais uma empresa no páreo, uma estrangeira. A outra empresa nacional interessada (adivinhem, a CCR), desistiu antes pois achou o negócio arriscado. Afirmou que seus estudos de viabilidade ‘encontraram elevados riscos de engenharia e investimentos ainda não concluídos; premissas de tráfego e custos operacionais divergentes dos estudos, dentre outros’.

Como uma empresa avalia que o negócio pode não ser tão bom e outra paga o dobro do lance? Os leilões de São Geraldo Alckmin são de fato estranhos. Ou será que a CCR desistiu de um pois já tinha o outro na manga?